quarta-feira, 28 de maio de 2008

Erasmo de Rotterdam - Terceirão lá vai Erasmo.... Aprenda com ele...




“Eu não lhe dei, Adão, nem um lugar predeterminado, nem quaisquer prerrogativas, a fim de que você possa tomá-los e possuí-los através de sua própria decisão e de sua própria escolha. Assim Deus fala na Oração Sobre a Dignidade do Homem, do pensador italiano Pico della Mirandola (1463-1494). Naquelas palavras está apresentado um dos temas centrais do humanismo renascentista: a liberdade do homem, que o torna um ser capaz de criar seu próprio projeto de vida.Movimento literário e filosófico originado na Itália – na segunda metade do século XIV – e depois difundido em outros países da Europa, o humanismo constituiu um dos fatores fundamentais do surgimento da cultura moderna. Nascido nas cidades e comunas que, na época, lutavam por sua autonomia, o humanismo repudiou a ordem e a hierarquia cósmica contidas na visão de mundo medieval e resguardadas pelo Império (o Sacro Império Romano-Germânico), pela Igreja e pelo feudalismo. Dentro dessa ordem hierárquica o homem ocupava lugar insignificante e inalterável, imerso num mundo que era visto como ocasião para tentações e pecado. Em contraposição à mentalidade medieval, os humanistas exaltarão a dignidade do homem, proclamando que sua liberdade pode e deve ser exercida tanto em relação à natureza quanto à sociedade. Como aspecto do Renascimento, o humanismo reintegra o homem na natureza e na história, reinterpretando-o em função dessas coordenadas.


Humanismo, liberdade e dignidade do homem.

O termo “humanismo” é derivado de humanitas, que no tempo de Cícero (106-43 a.C) designava a educação do homem enquanto considerado em sua condição propriamente humana, correspondendo ao sentido da palavra grega Paidéia: a educação por meio de disciplinas liberais, relativas a atividades exclusivas ao homem e que o distinguiam dos animais. A autonomia do ser humano é buscada pelos humanistas da Renascença por meio de uma volta à Antiguidade, a seus modelos e a suas diretrizes pedagógicas. As chamadas “humanidades” – poética, retórica, história, ética e política – passam desse modo a constituir, sob a inspiração dos antigos, a base de uma educação destinada a preparar o homem para o exercício da sua liberdade. Liberdade e capacidade humana de atuar sobre o mundo são temas fundamentais dos humanistas, aparecendo não apenas em Pico della Mirandola, como também em Gianozzo Manetti (1396-1459), em Marsílio Ficino (1433-1499), e ressurgindo nos humanistas franceses posteriores, como Charles Bouillé (1475-c. 1553). Mais tarde é que as especulações marcadas pela exaltação da capacidade humana serão contrabalançadas pela nota de ceticismo que o humanismo assumiu no pensamento de Montaigne (1533-1592), de Pierre Charron (1541-1603) e de Francisco Sánchez) (1552-1581).Outro fundamento do humanismo renascentista foi a convicção de que o mundo natural é o reino do homem. Esse naturalismo conduziu, paralelamente à afirmativa do valor espiritual do homem, que o torna livre, à exaltação do valor do corpo e de seus prazeres. Opondo-se ao ascetismo medieval, humanistas italianos, como Lorenzo Valla (1407-1457), retornam às teses do epicurismo antigo de que o bem é o prazer e de que a virtude consiste num cálculo de prazeres. Em nome do hedonismo, Valla inclusive recusa a superioridade religiosa da vida monástica: os verdadeiros seguidores de Cristo seriam os que dedicam suas atividades a Deus, pertençam ou não a ordens religiosas. O combate ao ascetismo e à vida monástica é empreendido também por Gianozzo Manetti, Coluccio Salutati (1331-1406) e Poggio Bracciolini (1380-1459). A afirmação da naturalidade do homem leva ainda os humanistas a proclamar a superioridade da vida ativa sobre a contemplativa e da filosofia moral sobre a física e a metafísica. “A filosofia moral é, por assim dizer, o nosso território”, escreve Leonardo Bruni (c. 1370-1444). A mesma idéia é defendida por Matteo Palmier (1406-1475) e por Bartolomeo de Sacchi (1421_1481). Nesse sentido é que o humanismo abriu caminho para a obra de Maquiavel (1469-1536) – em muitos aspectos considerado humanista.O retorno à Antiguidade, que inspira o humanismo renascentista, confere-lhe agudo senso de historicidade, de que carecia a cultura medieval, construída em função do ideal de intemporalidade. A defesa da eloqüência dos antigos, por exemplo, resultou para os humanistas num esforço de recuperação de linguagem genuína da época clássica e num laborioso empenho para restaura-la de sob as deformações sofridas no decorrer da Idade Média. Os humanistas redescobrem a perspectiva histórica, fazendo no plano da temporalidade uma mudança correspondente à descoberta, ao nível do espaço, da perspectiva ótica pela pintura renascentista.A rejeição do ascetismo e das filigranas teológicas não significou a adoção, pelos humanistas, de uma posição necessariamente anti-religiosa ou anticristã. O que fazem é rediscutir temas religiosos, como a providência de Deus e a natureza e o destino da alma, com o objetivo de defender a liberdade humana e a capacidade do homem de agir sobre o mundo e modifica-lo de acordo com suas necessidades. Por outro lado, no exame de problemas religiosos, deram preferência a dois temas que pareciam, na época, os mais importantes: a função civil da religião e a tolerância religiosa. A primeira associava-se ao naturalismo: na obra Sobre a Dignidade e a Excelência do Homem, Gianozzo Manetti defende a tese de que a Bíblia não contém apenas uma proclamação da felicidade celeste, mas encerraria também uma mensagem e um programa relativos à felicidade terrena. Por isso mesmo é que para Manetti, como para Valla e outros, a função fundamental da religião seria relativa à vida civil e à atividade política.A tolerância religiosa constitui outro traço típico do humanismo renascentista. Nos séculos posteriores – XVI e XVII – a tolerância resultará de guerras religiosas que acabarão por determinar a coexistência pacífica de vários credos, que todavia permanecem distanciados e irredutíveis. A tolerância preconizada pelos humanistas era de outro tipo, pois era sustentada pela convicção de que haveria uma unidade fundamental subjacente às diversas religiões. Isso implicava ainda a intrínseca identidade entre filosofia e religião. Perguntava Leonardo Bruni: “São Paulo ensinou algo mais do que foi pensado por Platão?”. Seguindo a linhagem da Patrística – a doutrina dos primeiros pais da Igreja – os humanistas consideravam que o cristianismo teria levado a sua plenitude a sabedoria expressa pelos filósofos antigos: a Razão (logos) grega seria uma antecipação do Verbo (Logos) que se encarna em Cristo. O retorno às origens significava, assim, para o humanismo da Renascença, a possibilidade de conciliar diferentes concepções filosóficas (como pretende Pico della Mirandola com o platonismo e o aristotelismo) e ainda harmoniza-las com a Cabala, a magia, a Patrística e a Escolástica. Com isso, poder-se-ia retornar às fontes de diversas correntes filosóficas e recuperar a paz religiosa que fora destroçada pelas disputas teológicas. A tolerância religiosa, sustentada por argumentos que já então exprimem o despontar da mentalidade moderna, ressurge como um dos ideais do humanismo de Erasmo de Rotterdam.

Numa prisão espiritual

Em agosto de 1495, um frade agostiniano, vindo de Cambrai, chegou a Paris com o objetivo de obter o título de doutor em teologia. Tinha sido contemplado com uma bolsa de estudos, mas os estipêndios, embora recebidos com regularidade, eram tão parcos que foi obrigado a alojar-se na domus pauperum do colégio Montaigu. Situado no Quartier Latin, sobre a colina de Sainte Geneviève, o edifício era triste e sombrio, os dormitórios sujos, as paredes nuas e geladas. As refeições eram péssimas: frequentemente os ovos e a carne eram servidos quase estragados e o vinho mais parecia vinagre.Tudo isso poderia ser visto com certa naturalidade por quem ainda tivesse uma visão medieval do mundo, centralizasse a vida em torno do espiritual e negasse o valor das coisas sensíveis. Mas o frade recém-chegado não pensava e nem sentia desse modo. Para ele o mundo material não era necessariamente residência do pecado e reino da contaminação, e cuidar do bem-estar físico não significava afastamento da bem-aventurança eterna.Piores que o desconforto ou os jejuns eram os sofrimentos pelos quais tinha que passar a inteligência diante do ensino escolástico. Impregnado de sutilezas insípidas, de exagerado formalismo, e limitado a discutir temas irrelevantes.O colégio Montaigu era, na verdade, uma verdadeira prisão espiritual, que poderia ter sido útil para Inácio de Loyola (1491-1556), que ali suportou, durante vinte anos, uma disciplina de castigos corporais para educar a vontade. Mas era absolutamente repugnante para a natureza nervosa, independente e moderna do jovem frade Erasmo. Ele era exemplo vivo de uma nova ordem de coisas, da mentalidade renascentista, da qual veio a se tornar um dos maiores representantes.

Sua mãe chamava-se Margared e era filha de um médico de Zevenbeque. Seu pai, Roger Geert, homem culto e relacionado com representantes do humanismo nos Países Baixos, era um padre com funções itinerantes em diversas paróquias da cidade de Goude, próxima a Rotterdam. A ligação amorosa com Margared não era lícita, mas as regras da vida cristã estavam enfraquecidas, naqueles tempos, e os rigores da moral agostiniana não eram mais obedecidos com tanta severidade. Dessa ligação resultou um primeiro filho, chamado Pieter. Poucos anos depois viria à luz Erasmo, um dia e mês conhecidos com certeza (passagem de 27 para 28 de outubro), mas num ano que não se sabe ao certo qual tenha sido: os biógrafos oscilam entre 1465 e 1469. É certo, entretanto, ter o fato ocorrido em Rotterdam, para onde Margared fora enviada a fim de guardar a discrição necessária em tais ocasiões. Inicialmente a educação de Erasmo foi confiada a um preceptor, com o qual aprendeu as primeiras letras. Mais tarde, em 1475, o pai providenciou seu ingresso na escola dos Irmãos da Vida em Comum, em Deventer. Era um estabelecimento famoso do norte do continente, no qual se respirava a atmosfera humanística que imperava na Renascença.Em Deventer Erasmo encontrou um dos melhores ambientes intelectuais da época, recebendo influência de humanistas como Johannes Sintheim e Alexander Hegius (1433-1498), e viveu feliz com a mãe e o irmão. Contudo, esses anos de bem-estar estavam fadados a terminar relativamente cedo: Margared faleceu e ele foi obrigado a voltar para Goude. Logo depois, o pai também morreu, vitimado por uma das pestes que, naquele tempo, assolavam a Europa periodicamente. Pieter e Erasmo foram então enviados pelos tutores a Hertogenbosch, onde encontraram uma disciplina de claustro extremamente desagradável. Não podiam, no entanto, desobedecer aos tutores e concluíram os estudos, esperando ansiosamente o momento de se tornarem livres. A solução era entrar para alguma ordem religiosa. E, de fato, Pieter ingressou no mosteiro de Sion, perto de Delft, enquanto Erasmo tornava-se noviço agostiniano em Steyn. Cinco anos depois (1492) era ordenado sacerdote e concluía um longo período dedicado ao estudo dos autores clássicos, gregos e latinos, solidificando sua formação humanística. Por outro lado, os rigores da vida monástica acenderam em Erasmo a paixão pela liberdade pessoal e a irritação com tudo aquilo que pudesse restringi-la Formaram-se assim os traços essenciais de um complexo caráter integralmente moderno, que colocava acima de tudo a independência intelectual, a liberdade de espírito e o culto do humano em todas as suas formas.Ordenado padre pelo bispo de Utrecht, Erasmo de Rotterdam pôs toda a inteligência a serviço de seus ideais e providenciou, através de negociações secretas muito hábeis – não querendo opor-se abertamente aos superiores – sua nomeação como secretário do bispo de Cambrai. Assim poderia libertar-se dos horizontes limitados do mosteiro de Steyn e tomar contato com o mundo, pois o bispo precisava dele para acompanha-lo até Roma. A viagem, no entanto, não chegou a ocorrer, tendo sido adiada várias vezes, o que permitiu ao moço, ansioso por liberdade, gozar uns tempos de vida sem problemas. Não era obrigado a dizer missa, podia divertir-se à vontade, conhecer pessoas inteligentes, aprofundar-se nos autores clássicos e, principalmente, dedicar-se à redação do diálogo Antibárbaros.A boa vida, contudo, deveria acabar. Afinal o bispo não precisava mais de secretário e o alegre frade deveria voltar para o convento e dedicar-se aos mesmos afazeres dos colegas de batina. Mas Erasmo tinha tomado gosto pela liberdade e outra vez teve que usar de habilidade para mudar a ordem normal das coisas. E o faz tão bem que convenceu o bispo a envia-lo à capital francesa para obter o título de doutor em teologia. A vida em Paris tinha enormes vantagens, pois a universidade era um verdadeiro centro internacional de cultura e Erasmo poderia desfazer-se do provincianismo do país de nascença.E realmente isso aconteceu, apesar de confinado a maior parte do tempo naquela prisão do corpo e da alma que era o colégio Montaigu. Nos momentos em que podia ver-se livre, procurava o contato com outras instituições e outras pessoas. Foi assim que conheceu Robert Gaguin (1425-1502) e Faustus Andrelinus (1462-1518), mestres incontestáveis do humanismo na França. No próprio colégio podia aprofundar o conhecimento dos primeis pais da igreja e rivalizar com os maiores epistológrafos antigos e modernos.No entanto, isso tudo não o isentava dos aspectos negativos da vida em Montaigu, e as torturas físicas acabaram por deixa-lo enfermo. Tal fato permitiu-lhe, mais uma vez, pôr a sagacidade prática em funcionamento e safar-se para a terra natal, sob pretexto de necessitar de cuidados médicos especiais.



Humor e Teologia

Como era de se esperar, a cura foi muito rápida e logo depois Erasmo aproveitou para libertar-se definitivamente do colégio “vinagre”, como ele mesmo o chamou. Entretanto, ao voltar a Paris, no outono de 1496, tinha que providenciar a subsistência. A solução era dar aulas particulares para não recorrer à Ordem e assim manter sua independência. Antes já tinha tratado de criar clientela e agora tinha alunos muito ricos, especialmente entre a aristocracia inglesa. Não só pagavam muito bem como possibilitavam-lhe outros privilégios, essenciais para quem queria manter-se livre e dedicar-se à criação de obras de pensamento e arte. Dessa época datam os primeiros esboços dos Colóquios e De como Escrever Cartas, além de pequeno volume de poemas.Os Colóquios (modificados em várias edições até a definitiva, em 1533) foram concebidos para funcionar junto aos alunos como manual de conversação. Em forma de diálogo extremamente vivo, Erasmo ridiculariza costumes sociais e da Igreja, além de personalidades da época escondidas sob pseudônimos, mas facilmente identificáveis pelo público mais ilustrado da época. Em O Casamento e A Jovem Arrependida satiriza os defensores da vida conventual como ideal de espiritualidade; na Confissão do Soldado e O Soldado e os Cartuchos qualifica sarcasticamente como loucos os jovens atraídos pela carreira das armas.Ele mesmo, no entanto, nada tinha de louco e sabia muito bem como fazer para dar solução aos problemas de sobrevivência e resguardar sua independência pessoal. Em 1499, acompanhado de lorde Mountjoy, um dos alunos ricos , chega à Inglaterra, consegue hospedagem no Saint Mary’s College de Oxford e toma contato com uma universidade muito mais aberta a novas idéias do que a de Paris. Em Oxford, estudantes e professores faziam juntos as refeições, em meio a animados debates; eram banquetes com companhia culta, boa comida, não muito vinho e nobre palestra. Erasmo sentiu-se em seu elemento, não só por causa desses costumes cotidianos, mas porque encontrou pessoas que partilhavam de seus interesses intelectuais. Eram muitos os que, em Oxford, pensavam como ele: o arcebispo William Warham (1450-1532), John Fisher (1469-1535), os mestres universitários William Grocyn (1446-1519), Thomas Linacre (1460-1524), e Hugh Latimer (1485(?)-1555), e sobretudo John Colet (1467-1519) e o futuro chanceler de Henrique VIII, Thomas More. Juntos, conceberam o projeto de restaurar a teologia através de novas edições dos textos bíblicos e propunham-se a iniciar, assim, uma revolução na hermenêutica e exegese dos livros sagrados. As conseqüências foram as mais profundas e as novas traduções a partir dos textos originais revelaram um cristianismo muito diverso daquele que perdurara durante os séculos da Idade Média.Logo ao chegar à Inglaterra, em 1499, Erasmo não estava ainda dotado de todos os instrumentos necessários para esse trabalho, pois faltava-lhe o domínio do grego. Mas dedicou-se a aprende-lo com os colegas ingleses e continuou os estudos durante alguns anos, até tornar-se apto a fazer a tradução, com comentários críticos, do Novo Testamento, publicado em 1516, e que veio a constituir um marco dentro da história da hermenêutica bíblica.Antes, em 1500, Erasmo tentara deixar a Inglaterra, mas um incidente na hora da partida obrigou-o a redigir e publicar outra obra que marcaria época: as autoridades portuárias inglesas não lhe permitiram carregar as economias em ouro e prata, acumuladas custosamente. Mais uma vez viu-se forçado a recomeçar do zero a luta pelo pão de cada dia. Não teve dúvidas sobre como fazê-lo e em pouco tempo redigiu uma antologia de citações latinas e provérbios, colocando nas mãos do grande público um imenso acervo de cultura, até então privilégio de poucos. O livrinho teve sucesso imediato e foi o primeiro exemplar de literatura de divulgação. Chamava-se Adágios e trouxe celebridade para o autor. À cata de patrocínio e ao mesmo tempo cioso de sua independência pessoal, viaja pelos Países Baixos e pela França, sem fixar-se em lugar algum. Acima de tudo procura não se comprometer com nenhuma instituição ou pessoa. Almeja apenas ao pouco que lhe permitia satisfazer as necessidades básicas, permanecendo livre para o trabalho intelectual.


O Elogio da Loucura

Continuando suas viagens, concretiza o velho sonho de estagiar na Itália, centro do humanismo e de toda a renovação intelectual renascentista que se estende pela Europa. Não só as bibliotecas italianas, onde poderia encontrar preciosos manuscritos, mas a tipografia de Aldo Manunzio (1450-1515) excitam-no enormemente, e passa horas e horas a trabalhar com belíssimos caracteres tipográficos, sobretudo os mais miúdos. A imprensa é para ele mais do que uma simples técnica: é o instrumento maravilhoso que abrirá todas as portas da cultura, inaugurando uma nova era.Em 1509 a Coroa Inglesa passa à cabeça de Henrique VIII (1491-1547), que Erasmo conhecera desde menino e com o qual chegara a corresponder-se em latim. O monarca estava sempre imerso na leitura dos Adágios, segundo informação do ex-aluno Lorde Mountjoy, e os amigos insistem para que Erasmo volte à Inglaterra, pois poderia conseguir do novo soberano uma pensão permanente. Em 1509 deixa definitivamente a Itália e hospeda-se em Londres, na casa de Thomas More, onde encontra o ambiente ideal para o estudo e as longas conversas eruditas. A saúde frágil, porém, perturba-lhe a tranqüilidade, e crises de cálculo renal obrigam-no a longas horas de repouso. Erasmo reage ao mal por meio do recurso que lhe servia até como remédio: escrever. Nasce assim uma obra-prima da literatura de todos os tempos e de todas as línguas: O Elogio da Loucura.Apenas sete dias bastaram para escrever a obra, graças à absoluta liberdade de concepção e total ausência de compromissos. Não se tratava de trabalho feito sob encomenda ou programado para obtenção urgente de dinheiro para subsistência. Era uma brincadeira para passar o tempo, mas quem assim brincava tinha atrás de si toda uma vida dedicada à melhor literatura clássica e mais as experiências de um homem voltado inteiramente para as coisas do espírito.Erasmo tinha sofrido todas as agruras da pobreza e da bastardia e tinha convivido com príncipes e poderosos. Tinha passado pelos rigores da vida monacal e vira bispos comprazerem-se no luxo e na libertinagem. Fora testemunha do furor criminoso dos príncipes da Itália em guerra e vira a miséria aflitiva do povo. Tudo isso soava-lhe profundamente estúpido e ao mesmo tempo a própria estultícia parecia ser o motor dessas ações absurdas. Passou-lhe então pela cabeça, pouco antes de chegar à Inglaterra, atravessando os Alpes, a idéia de colocar isso tudo no papel. As crises de cálculo renal, na casa do amigo More, forneceram-lhe as circunstâncias propícias para fazer a Loucura subir ao púlpito, sempre acompanhada pela Lisonja e pelo Amor-Próprio, e elogiar a si mesma.O resultado foi a crítica impiedosa dos juristas minuciosos, dos filósofos escolásticos, dos nobres arrogantes, dos bispos luxuriosos, dos negociantes sórdidos e estúpidos, dos militares que julgavam ser suficiente atirar uma moeda numa bandeja para adquirir a indulgência que os deixaria puros e limpos como quando nasceram.




Todo O Elogio da Loucura é uma mascarada, mantida viva pela ambigüidade estrutural que anima a crítica aos costumes e aos poderosos, e pela inspiração vibrante vestida de admirável roupagem estilística. A opinião pessoal do autor permanece inacessível e, se alguém se atrevesse a discutir com ele por causa do sarcasmo e das críticas que distribui generosamente, poderia responder, tranqüilo, que não foi ele quem disse isso, mas Dona Estultícia. E quem deve tomar a sério a loucura?O próprio livro nada tinha de louco e, muito embora tudo parecesse brincadeira para homenagear o anfitrião Thomas More (em grego, loucura é moria), a pequena sátira obteve imediatamente enorme sucesso e desempenhou papel fundamental na eclosão da Reforma protestante. A maior parte daquilo que os reformadores objetavam à Igreja encontrava-se criticado por Erasmo. O Elogio da Loucura, sob a aparência de festivo fogo de artifício, foi uma das obras que mais abalaram seu tempo, funcionando como verdadeiro panfleto revolucionário. Constituindo a mais ousada e a mais artística obra de sua época, era consumida amplamente por aqueles que voltavam de Roma irritados com os desregramentos de papas e cardeais, a viver a vida suntuosa de príncipes, em contradição com os preceitos do cristianismo original. Os revoltados reclamavam uma reforma geral da Igreja e alimentavam-se ideologicamente das críticas do brilhante humanista Erasmo de Rotterdam.Liberdade ou servidão?As críticas aos costumes e às instituições, escritas em 1509, vinham-se juntar a uma nova concepção da vida cristã, tal como Erasmo tinha exposto no Manual do Cristão Militante (1501). Nessa obra sonhava com um ideal religioso ao alcance de todos, uma religião interiorizada e humanizada, sem os excessos místicos de boa parte da Idade Média e também sem o racionalismo estéril do formalismo escolástico. Aliam-se também a seu trabalho como filólogo, preocupado com revisar os erros da vulgata, e dedicado a uma nova tradução, para o latim de todo o Novo Testamento. Isso sem contar as inúmeras edições críticas, que preparou, das obras dos primeiros pais da Igreja, especialmente as de São Jerônimo.Há muito, portanto, Erasmo estava procedendo a uma eficaz reforma da doutrina cristã, ao atacar o pensamento medieval em suas bases. Não possuía, contudo, aquele grão de loucura que ele mesmo achava necessário para fazer o mundo caminhar mais depressa. Não era um revolucionário que pegasse em armas para atacar violentamente o adversário e tentar derrota-lo em pouco tempo. Não era um condutor de massas, muito embora sua pena tivesse a força de muitos exércitos. Preferia atacar o mal de maneira sutil, pela ironia e pela vivacidade de espírito, dirigidas aos mais inteligentes. Solapava as bases do pensamento da época sem fazer nenhum estardalhaço. Era muito diferente daquele outro frade agostiniano, Martinho Lutero (1483-1546), que estava prestes a irromper como um furação para mudar toda a ordem econômica, política e religiosa da Europa.Em abril de 1511, Erasmo deixou a casa de Thomas More, sem ter conseguido obter a esperada pensão de Henrique VIII, cujo amor ao humanismo já tinha sido substituído pelo amor às intrigas da corte e à glória nos campos da batalha. Viaja então até Paris, a fim de publicar O Elogio, e retorna à Inglaterra, onde passa a ensinar grego e teologia na universidade de Cambridge. Em 1512 o arcebispo de Canterbury consegue-lhe um reitorado em Kent, com pensão anual de 20 libras, pagáveis inclusive no exterior, mesmo que deixasse de exercer as funções. Dois anos depois Erasmo transfere-se para Basiléia, na Suíça, tendo, pouco antes, redigido uma sátira contra o papa Júlio II (1443-1513).Em Basiléia liga-se ao editor Frobenius (1460-1517) e trabalha junto com os operários da tipografia, cuidando do texto grego e latino, além de apreciações críticas, do Novo Testamento e das Cartas de São Jerônimo. Liga-se também ao pintor Hans Holbein Jr. (1497-1543) que o retrata várias vezes, e desenha ilustrações para O Elogio da Loucura.Em meio aos trabalhos eruditos, Erasmo entra em contato, pela primeira vez, com Lutero, por meio de uma carta de Spalatinus, secretário do embaixador da Saxônia. O diplomata, entre outros assuntos, fala-lhe do jovem frade, que sente por ele a mais alta estima, mas não concorda com sua concepção sobre o pecado original. Não adota a opinião de Aristóteles, segundo o qual é justo aquele que procede com justiça. Para Lutero, só se é justo quando se está em estado de justiça. Em outros termos, Lutero acha que primeiro é preciso que o indivíduo seja transformado interiormente e justificado por Deus (Se apropriando, assim, da justiça divina por imputação) ; as obras viriam depois (como conseqüência).Nessa pequena discordância filosófica estavam contidas todas as diferenças entre os dois reformadores. Erasmo era um humanista no mais completo sentido, que acreditava integralmente nas possibilidades da razão humana distinguir claramente entre o bem e o mal, e que colocava no livre-arbítrio de cada um a fonte de todo autêntico pensamento religioso e da opção moral. Lutero esposava o agostinismo mais extremado, segundo o qual o homem é um miserável ser condenado ao pecado e à degradação, da qual só pode ser salvo pela graça divina; o homem não pode por si só atingir a beatitude eterna mediante aquilo que faça; é preciso antes entregar-se a Deus pela fé, como explicitado no Novo Testamento, especialmente nas cartas do Apóstolo Paulo. Erasmo procura a reforma pelo esclarecimento racional, Lutero afirma, antes de tudo, o poder da fé.A fé remove montanhas, a razão não; Assim, a Reforma seguiu o caminho de Lutero e incendiou o continente, a partir das famosas 95 Teses redigidas e afixadas na porta da Catedral de Wittemberg, em 31 de outubro de 1517.Erasmo, Lutero e o VaticanoA história posterior a essa data é marcada pelos pedidos dos outros reformadores no sentido de que Erasmo participasse das novas idéias religiosas, pois afinal todos queriam basicamente as mesmas coisas e o célebre humanista seria uma arma importante na luta, com toda sua cultura e erudição. Do outro lado ocorre o mesmo, com o Vaticano a solicitar a Erasmo que condenasse as teses de Lutero, para isso chegando mesmo a oferecer-lhe um posto de cardeal. Mas Erasmo não se deixa render, porque não concorda com nenhum dos lados. A Igreja lhe parece podre e a exigir profundas modificações, mas os reformadores eram, a seu ver, bárbaros e fanáticos. Além do mais, faz questão de conservar absoluta independência pessoal, e isso implica não tomar partido. O que poderia parecer covardia era, na verdade, o resultado de arraigada convicção de que os dois lados estavam errados e o verdadeiro caminho deveria ser criado pelo homem enquanto ser inteligente e livre.As paixões a seu redor o aborreciam, mas apesar disso continuava a executar seu trabalho intelectual. Em 1517 vem à luz a Questão da Paz, onde advoga o ideal de uma Europa unida e sem fronteiras nacionais. O próprio Erasmo não queria ser holandês, francês, inglês, italiano ou suíço, como realmente não foi, mas tão-somente um cidadão do mundo. E isso ele o foi com coerência e lucidez. Em 1522 publica uma nova edição ampliada dos Colóquios, na qual apresenta uma sociedade justa e racional, verdadeiramente cristã e amiga da paz, que julga possível existir no futuro. Em 1524 é a vez do pequeno tratado Sobre o Livre-Arbítrio, contestado dois anos depois pelo Servo Arbítrio (ou Livre-Arbítrio, Um Escravo), de Lutero. Como se tudo isso não bastasse, continua a trabalhar nas edições críticas dos textos originais dos primeiros padres da Igreja.


Em 1529 Basiléia deixa de ser um refúgio tranqüilo, e os conflitos religiosos eclodem. Em fevereiro o culto católico é oficialmente abolido. Erasmo se sente obrigado a partir. Refugia-se na cidade de Frieburgh e continua a escrever: A Amável Concórdia da Igreja, uma nova tradução do Eclesiastes e quatro volumes sobre a arte da pregação, dedicados ao bispo Fisher, que logo depois seria condenado à morte por não aceitar a autoridade de Henrique VIII em matéria

religiosa. A saúde, entretanto, está abalada. O reumatismo e as dores de estômago são insuportáveis. Mas o remédio contra os males do corpo e do espírito continua à mão: escrever. E viajar também. Projeta voltar à terra natal, para onde é chamado insistentemente pelo bispo de Brabante. Vai antes, contudo, para Basiléia, onde deveria esperar o degelo da primavera. Alguns fiéis o retêm por mais algum tempo e cuidam dele carinhosamente. Visita a tipografia de Frobenius para supervisionar a edição do Eclesiastes e escreve ainda um Comentário ao Salmo XIV, que há muito prometera a um amigo humilde chamado Eschenfelder. Foi o último trabalho.Em junho de 1536 Erasmo está tão fraco que já não consegue ler, e um mês depois, exatamente no dia 12 de julho, pronuncia as últimas palavras de sua vida, Lieve God (em holandês: Bom Deus), e exala o último suspiro. Deixava como herança a idéia de que a razão deve combater todos os fanatismos e atos de fé, e que acima de todos os valores deve estar o homem, sobretudo enquanto ser de inteligência livre.

Os dois príncipes




Artigo sobre os livros "O Príncipe" de Maquiavel e "A Arte da Guerra" de Sun TzuAdilson Luiz Gonçalves




É curioso como a maioria dos que ingressam na política partidária após um contato inicial com a vida pública adota como bibliografia básica dois títulos: "O Príncipe", de Maquiavel, e "A Arte da Guerra", de Sun Tzu, nessa ordem. O mais curioso é que a maioria se diz impressionada com a atualidade e perspicácia dos conceitos neles expostos, independentemente de contexto histórico, e mais preparada para enfrentar os desafios desse meio complexo.Este padrão faz lembrar de um outro príncipe, o “Pequeno Príncipe”, de Saint Éxupéry, que era o livro preferido e indispensável para dez entre dez misses.

A diferença é que enquanto o primeiro relaciona modelos de governo, recheados de argúcia e uma boa dose de crueldade, numa época em que a vida humana valia muito pouco nas mãos dos que faziam política: os nobres; o segundo fala de pureza e amizade. Sendo assim, o que a adoção de Maquiavel e Sun Tzu como mestres - todos associados a sistemas absolutistas - pode auxiliar na evolução de um modelo democrático? Formando novos predadores? As obras de Maquiavel e Sun Tzu são interessantes documentos históricos, que serviram de conselho aos nobres de seus tempos e têm sido fonte de inúmeras analogias. Vários autores e conferencistas ainda se valem delas na área empresarial. Já a obra de Saint Éxupéry é lembrada mais como manifesto utópico. São dois "príncipes" e duas medidas, mas lê-los é importante, como importante é ler qualquer livro, de qualquer autor, pois quanto mais e mais diverso for o conhecimento adquirido, mais e melhor nosso discernimento estará instrumentado para raciocinar e concluir. Afinal, para enfrentar o "mal" é preciso conhecer seus princípios e métodos. Mas também é indispensável aprender e praticar o “bem”! Cristo, investido da forma e fraquezas humanas, sujeitou-se a tentações durante quarenta dias no deserto para provar a força do espírito sobre a carne antes de assumir efetivamente seu destino. O que causa preocupação é que muitos desses novos políticos, que poderiam mudar o quadro atual, lêem essa bibliografia sem auferir nenhuma elevação ou evolução espiritual, ou sensibilidade social; em vez disso buscam nesses e em outros autores consagrados e mitos justificativas para intentos pouco democráticos ou moralmente duvidosos, e mercadoria para abastecer seus "saquinhos de maldades". Querem aplicar os pensamentos de forma literal e insofismável, ignorando contextos históricos, sem se importar que para isso tenham que passar por cima dos princípios morais e éticos que a civilização levou séculos para amadurecer. Assim, o povo continua valendo muito pouco nesse projeto...Num dado trecho da obra de Maquiavel, um nobre ordena a um comandante, de sua inteira confiança e que prima obediência cega, que conquiste um território usando de todos os recursos necessários. Todos mesmo!Obediente, fiel e seguindo a moral da época, o militar invade cidades, manda assassinar governantes e suas famílias e impõe temor e terror ao povo. Preparado o caminho, o nobre entra triunfalmente em seus novos domínios e, num gesto magnânimo, buscando aproximação e respeito de seus novos súditos, manda executar seu fiel e obediente comandante!Muito atual não? E quase literal... Essa formação estereotipada e mal-interpretada, aliada a uma predisposição natural para o dolo e o sadismo, tem sido responsável pela "cultura" de muitos políticos, que começam suas carreiras com nobres ideais, para pouco tempo depois resumirem sua vida pública ao discurso vazio, à retórica rebuscada e à busca obstinada de prestígio e poder, ou da sombra de quem os têm, qual um autêntico vício. A esperança de formação de um cidadão íntegro cede lugar ao cidadão partido, cujos princípios variam de acordo com a legenda em que se encontra, ou a legenda varia de acordo com seus projetos de momento. Talvez fosse melhor que os políticos lessem “O Pequeno Príncipe”, de Saint Éxupéry e as misses, “O Príncipe”, de Maquiavel. Ambos ficariam, seguramente, mais interessantes...

"OS fins justificam os meios" Discussão terceirão - O príncipe continua atual



Artigo sobre o livro "O Príncipe" de Nicolau Maquiavel (Nicolo Machiavelli) Paula Lameu





Nicolau Maquiavel em "O príncipe" escreveu uma "cartilha" de dominação ideal para manter qualquer um que esteja no lugar do príncipe no poder de uma nação. Considerado como o precursor da política moderna, foi o primeiro a desvincular poder e religião. Maquiavel escreve um manifesto ao "príncipe" de Florença, Lorenzo de Médici, o maior mecenas da Itália, dizendo que a mesma deveria se unificar como as outras nações européias, que estavam se tornando Estados Nacionais.Pertencente à burguesia emergente, Médici tinha poder aquisitivo suficiente para ocupar a posição do "príncipe" da Itália e unificar os reinos de Milão, Roma, Nápoles, Florença e Veneza.Com humildade e poesia, Maquiavel pede e justifica seu pedido colocando parábolas e exemplos bem e mal sucedidos da história da conquista dos povos. Isso só foi acontecer efetivamente no século XIX.Baseado em pesquisas e na vivência da política em outros povos, Maquiavel mostra que todo príncipe, todo regente de uma nação antes de tudo deve ter a virt`u, ser virtuoso, inteligente em seus atos, que também deve estar equilibrada com a fortuna. Um príncipe só terá êxito se souber lidar com esses dois pontos.O povo deve ser agradado pelo príncipe, pos aquele que é eleito pelo povo é mais difícil de destituir do que aquele que é eleito pela elite dominante. Outros príncipes devem ser temidos pelo príncipe, os próximos e os distantes, os fracos e os fortes, pois a hipótese de sofrer invasões é constante e elas devem ser esperadas de todos os lados.Muitas outras dicas foram dadas, além da descrição dos tipos de nações, ou "principados". O príncipe foi escrito a mais de meio século e continua atual, pois as relações políticas não possuem um fim e sempre que houver a relação dominante e dominado haverá política.Leia também:

terça-feira, 27 de maio de 2008

Resumo aula 3º Ano RENASCIMENTO - aula 29/05




Meus queridos alunos segue abaixo o resumo de nossa aula... e algumas considerações sobres autores que são importantíssimos para nosso conheciemento e para os estudos do Vestibular, aproveitem,,,,






Renascimento Cultural



INTRODUÇÃO




Renascimento é o nome que se dá a um grande movimento de mudanças culturais, que atingiu as camadas urbanas da Europa Ocidental entre os séculos XIV e XVI, caracterizado pela retomada dos valores da cultura greco-romana, ou seja, da cultura clássica. Esse momento é considerado como um importante período de transição envolvendo as estruturas feudo capitalistas. As bases desse movimento eram proporcionadas por uma corrente filosófica reinante, o humanismo, que descartava a escolástica medieval, até então predominante, e propunha o retorno às virtudes da antiguidade. Platão, Aristóteles, Virgílio, Sêneca e outros autores greco-romanos começam a ser traduzidos e rapidamente difundidos.








Os Valores O movimento renascentista envolveu uma nova sociedade e portanto novas relações sociais em seu cotidiano. A vida urbana passou a implicar um novo comportamento, pois o trabalho, a diversão, o tipo de moradia, os encontros nas ruas, implicavam por si só um novo comportamento dos homens. Isso significa que o Renascimento não foi um movimento de alguns artistas, mas uma nova concepção de vida adotada por uma parcela da sociedade, e que será exaltada e difundida nas obras de arte. Apesar de recuperar os valores da cultura clássica, o Renascimento não foi uma cópia, pois utilizava-se dos mesmos conceitos, porém aplicados de uma nova maneira à uma nova realidade. Assim como os gregos, os homens "modernos" valorizaram o antropocentrismo: "O homem é a medida de todas as coisas"; o entendimento do mundo passava a ser feito a partir da importância do ser humano, o trabalho, as guerras, as transformações, os amores, as contradições humanas tornaram-se objetos de preocupação, compreendidos como produto da ação do homem. Uma outra característica marcante foi o racionalismo, isto é, a convicção de que tudo pode ser explicado pela razão do homem e pela ciência, a recusa em acreditar em qualquer coisa que não tenha sido provada; dessa maneira o experimentalismo, a ciência, conheceram grande desenvolvimento. O individualismo também foi um dos valores renascentistas e refletiu a emergência da burguesia e de novas relações de trabalho. A idéia de que cada um é responsável pela condução de sua vida, a possibilidade de fazer opções e de manifestar-se sobre diversos assuntos acentuaram gradualmente o individualismo. É importante percebermos que essa característica não implica o isolamento do homem, que continua a viver em sociedade, em relação direta com outros homens, mas na possibilidade que cada um tem de tomar decisões. Foi acentuada a importância do estudo da natureza; o naturalismo aguçou o espírito de observação do homem. O hedonismo representou o "culto ao prazer", ou seja, a idéia de que o homem pode produzir o belo, pode gerar uma obra apenas pelo prazer que isso possa lhe proporcionar, rompendo com o pragmatismo. O Universalismo foi uma das principais características do Renascimento e considera que o homem deve desenvolver todas as áreas do saber; podemos dizer que Leonardo da Vinci é o principal modelo de "homem universal", matemático, físico, pintor e escultor, estudou inclusive aspectos da biologia humana.








ITÁLIA: O Berço do Renascimento Esse é uma expressão muito utilizada, apesar de a Itália ainda não existir como nação. A região italiana estava dividida e as cidades possuíam soberania. Na verdade o Renascimento desenvolveu-se em algumas cidades italianas, principalmente aqueles ligadas ao comércio. Desde o século XIII, com a reabertura do Mediterrâneo, o comércio de várias cidades italianas com o oriente intensificou-se , possibilitando importantes transformações, como a formação de uma camada burguesa enriquecida e que necessitava de reconhecimento social. O comércio comandado pela burguesia foi responsável pelo desenvolvimento urbano, e nesse sentido, responsável por um novo modelo de vida, com novas relações sociais onde os homens encontram-se mais próximos uns dos outros. Dessa forma podemos dizer que a nova mentalidade da população urbana representa a essência dessas mudanças e possibilitará a Produção Renascentista. Podemos considerar ainda como fatores que promoveram o renascimento italiano, a existência de diversas obras clássicas na região, assim como a influência dos "sábios bizantinos", homens oriundos principalmente de Constantinopla, conhecedores da língua grega e muitas vezes de obras clássicas.



CAnhão de Da Vinci

A Produção Renascentista É necessário fazer uma diferenciação entre a cultura renascentista; aquela caracterizada por um novo comportamento do homem da cidade, a partir de novas concepções de vida e de mundo, da Produção Renascentista, que representa as obras de artistas e intelectuais, que retrataram essa nova visão de mundo e são fundamentais para sua difusão e desenvolvimento. Essa diferenciação é importante para que não julguemos o Renascimento como um movimento de "alguns grandes homens", mas como um movimento que representa uma nova sociedade, urbana caracterizada pelos novos valores burguesas e ainda associada à valores cristãos. O mecenato, prática comum na Roma antiga, foi fundamental para o desenvolvimento da produção intelectual e artística do renascimento. O Mecenas era considerado como "protetor", homem rico, era na prática quem dava as condições materiais para a produção das novas obras e nesse sentido pode ser considerado como o patrocinador, o financiador. O investimento do mecenas era recuperado com o prestígio social obtido, fato que contribuía com a divulgação das atividades de sua empresa ou instituição que representava. A maioria dos mecenas italianos eram elementos da burguesia, homens enriquecidos com o comércio e toda a produção vinculada à esse patrocínio foi considerada como Renascimento Civil. Encontramos também o Papa e elementos da nobreza praticando o mecenato, sendo que o Papa Júlio II foi o principal exemplo do que denominou-se Renascimento Cortesão.

A Expansão do Renascimento No decorrer do século XVI a cultura renascentista expandiu-se para outros países da Europa Ocidental e para que isso ocorresse contribuíram as guerras e invasões vividas pela Itália. As ocupações francesa e espanhola determinaram um conhecimento melhor sobre as obras renascentistas e a expansão em direção a outros países, cada um adaptando-o segundo suas peculiaridades, numa época de formação do absolutismo e de início do movimento de Reforma Religiosa. O século XVI foi marcado pelas grandes navegações, num primeiro momento vinculadas ao comércio oriental e posteriormente à exploração da América. A navegação pelo Atlântico reforçaram o capitalismo de Portugal, Espanha e Holanda e em segundo plano da Inglaterra e França. Nesses "países atlânticos" desenvolveu-se então a burguesia e a mentalidade renascentista. Esse movimento de difusão do Renascimento coincidiu com a decadência do Renascimento Italiano, motivado pela crise econômica das cidades, provocada pela perda do monopólio sobre o comércio de especiarias. A mudança do eixo econômico do Mediterrâneo para o Atlântico determinou a decadência italiana e ao mesmo tempo impulsionou o desenvolvimento dos demais países, promovendo reflexos na produção cultural.

Outro fator fundamental para a crise do Renascimento italiano foi a Reforma Religiosa e principalmente a Contra Reforma. Toda a polêmica que desenvolveu-se pelo embate religioso fez com que a religião voltasse a ocupar o principal espaço da vida humana; além disso, a Igreja Católica desenvolveu um grande movimento de repressão, apoiado na publicação do INDEX e na retomada da Inquisição que atingiu todo indivíduo que de alguma forma de opusesse a Igreja. Como o movimento protestante nõ existiu na Itália, a repressão recaiu sobre os intelectuais e artistas do renascimento.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

RESUMO AULA - 3º Ano A E B dia 19/05/08




Meus queridos do Terceirão. ai vai um breve comentário sobre nosso assunto passado a EXPAnsão MArítima Européia, e abaixo temos umas questões de Vestibulares.. Aproveitem.!!!



A expansão marítima européia , vai ser o momento em que os europeus se lançam pelo oceano Atlântico em busca de metais preciosos, que eram a medida de riqueza de um país(metalismo), busca do caminho para as índias( a Ásia atualmente, não apenas o país India),busca por novas terras(colônias).O que mudou no mundo: ocorre o primeiro processo de globalização, já que os europeus passam a viajar para a Ásia, América, África, comercializando e obviamente, havendo uma troca cultural entre os continentes;descoberta do novo continnte - América - ; o Mercantilismo passa a substituir o Feudalismo(Idade Média), como modo de produção, já que se ganhava dinheiro através de práticas mercantis(comércio); fortalecimento dos Estados Nacionais(países) com o enriquecimento trazido das colônias , a burguesia era agora a classe rica, porém ainda sem poder político; a população se torna mais urbana do que rural graças ao comércio .

Lembre-se: Século XV em diante, época de enormes transformações, graças ao Renascimento ( mudanças culturais, artísticas, intelectual) e á Expansão Marítima Européia( mudanças na economia e no comércio). Idade Moderna.

Outra questão que é bastante esquecida na relação da expansão marítima com a formação do capitalismo, é que ela possibilitou dois processos no decorrer do século XVI: primeiro, a pilhagem das riquezas metálicas dos povos pré-colombianos; segundo, o comércio de escravos africanos para trabalhos forçados nas colônias européias, onde outra antiga prática bastante antiga foi implantada com sucesso: o latifúndio. Ou seja, a acumulação primitiva de capital foi favorecida pela exploração colonial que nasceu das caravelas de Colombo e Vasco da Gama, criando o ambiente de uma história planetária. A expansão marítima daqueles séculos inaugura o que denominamos de globalização
VESTIBULARES
1 - (Fuvest-SP) Sobre o Tratado de Tordesilhas, assinado em 7 de junho de 1494, pode-se afirmar que objetivava:

a) demarcar os direitos de exploração dos países ibéricos, tendo como elemento propulsor o desenvolvimento da expansão comercial marítima.
b) estimular a consolidação do reino português, por meio da exploração das especiarias africanas e da formação do exército nacional.
c) impor a reserva de mercado metropolitano, por meio da criação de um sistema de monopólios que atingia todas as riquezas coloniais.
d) reconhecer a transferência do eixo do comércio mundial do Mediterrâneo para o Atlântico, depois das expedições de Vasco da Gama às Índias.
e) reconhecer a hegemonia anglo-francesa sobre a exploração colonial após a destruição da invencível Armada de Filipe II, da Espanha.

2 - (MACKENZE) A expansão marítima européia dos séculos XV e XVI permitiu:

a) A formação de domínios coloniais que dinamizaram o comércio europeu.
b) O crescimento do comércio de especiarias pelas rotas do Mediterrâneo.
c) A implantação de impérios coloniais na Ásia, para extração de metais preciosos.
d) O fortalecimento do feudalismo e da servidão na Europa Ocidental.
e) A colonização do tipo mercantilista, sem a interferência do Estado e da Igreja.

3 - (PUC-MG) O Tratado de Tordesilhas representa:

a) A tomada de posse do Brasil pelos portugueses.
b) O declínio do expansionismo espanhol.
c) O fim da rivalidade hispano-portuguesa na América.
d) O marco inicial no processo da partilha colonial.
e) O início da colonização do Brasil.

4 - (PUC-MG) o fator que contribui para a grande expansão marítima.

a) A estabilidade econômica da Idade Média.
b) A organização das corporações de ofício.
c) O advento das monarquias nacionais.
d) O desenvolvimento do comércio continental europeu.
e) O enriquecimento da nobreza feudal.

5 - (LJFPE) Portugal e Espanha foram no século XV as nações modernas da Europa, portanto pioneiras nos grandes descobrimentos marítimos. Identifique as realizações portuguesas e as espanholas, no que diz respeito a esses descobrimentos.

1 - Os espanhóis, navegando para o Ocidente, descobriram, em 1492, as terras do Canadá.
2 - Os portugueses chegara ao Cabo das Tormentas, na África, em 1488.
3 - Os portugueses completaram o caminho para as índias, navegando para o Oriente, em 1498.
4-A coroa espanhola foi responsável pela primeira circunavegação da Terra iniciada em 1519, por Fernão de Magalhães. Sebastião El Cano chegou de volta à Espanha em 1522.
5 – Os portugueses chegaram às Antilhas em 1492, confundindo o Continente Americano com as Índias.

Estão corretas apenas os itens:

a) 2, 3 e 4;
b) 1, 2 e 3
c) 3, 4 e 5
d) 1, 3 e 4
e) 2, 4 e 5

6 - (UNIMONTES) A respeito da expansão marítimo-comercial dos séculos XV e XVIé incorreto afirmar que:

a)o eixo comercial deslocou-se do Mediterrâneo para o Atlântico.
b)O afluxo de metais preciosos para a Europa provocou uma sensível baixa de preços.
c) concorreu para a acumulação primitiva de capital, preparando o caminho para a Revolução Industrial.
d)a empresa comercial foi dirigida pelo Estado monárquico absolutista.
e) favoreceu a criação de grandes companhias para garantir um comércio mais seguro e lucrativo.

7 - (GABARITO) Todas as alternativas relacionam corretamente os acontecimentos e fenômenos importantes para a formação do Mundo Moderno, EXCETO:

a) Renascimento Comercial e Urbano na Baixa Idade Média / Formação da Burguesia.
b) Expansão Marítima Européia/ Constituição dos Impérios Coloniais Americanos.
c) Monarquia Absolutista / Participação da Burguesia do poder Político.
d) Mercantilismo / Acumulação de Capital pelas Classes Burguesas.
e) Renascimento Cultural / Elaboração de uma Concepção Individualista.

8 - (Diamantina) O famoso “Testamento de Adão”, ao qual o soberano francês se referia para reivindicar para o seu país a participação no processo expansionista ultramarino europeu, tem origem:

a)na. superioridade da marinha francesa, no século dezesseis, sobre a frota naval dos países atlânticos da Europa.
b)na concessão feita, pelo Papa Alexandre VI, de terras na África e na Ásia para a exploração da Espanha.
c) na assinatura do Tratado de Tordesilhas, entre Portugal e Espanha, que “dividia” o mundo entre os países da Península Ibérica.
d) na participação da França, junto aos demais países católicos europeus, na expulsão dos muçulmanos da bacia do Mediterrâneo, na época das Cruzadas.
e) na existência de um pretenso documento que dava às nações da Europa o direito de dominar e explorar as áreas subdesenvolvidas da África e da América.

9 - (PUC - MG) A descoberta da América, em 1492, por Colombo, em nome dos reis espanhóis, constitui um importante fator de superação da crise que atinge a Europa Ocidental nos séculos XIV - XV, pois:

a) absorve o excedente populacional dos países europeus, através da criação de colônias de povoamento.
b) neutraliza os conflitos entre as potencias européias, concentradas no processo de colonização do novo continente.
c) amplia as reservas de metais preciosos, possibilitando maior circulação de moedas e acumulação de capitais.
d) promove o processo de partilha da África. como fornecedora de mio-de-obra escrava, entre as potencias européias.
e) estimula a produção agrícola na Europa pura atender à demanda da população do novo continente.

10 - (CESGRANRIO) Foram inúmeras as conseqüências da expansão ultramarina dos europeus, gerando uma radical transformação no panorama da história da humanidade.
Sobressai como UMA importante conseqüência

a) A constituição de impérios coloniais embasados pelo espírito mercantilista.
b) a manutenção do eixo econômico do Mar Mediterrâneo com acesso fácil ao Oceano Atlântico.
c) a dependência do comércio com o Oriente, fornecedor de produtos de luxo como sândalo, porcelanas e pedras preciosas.
d) o pioneirismo de Portugal, explicado pela posição geográfica favorável
e) a manutenção dos níveis de afluxo de metais preciosos para a Europa.
11 - O mar foi, durante muito tempo, o lugar do medo. Diz um ditado holandês do início da Idade Moderna:

“Mais vale estar na charneca com uma velha carroça do que no mar num navio novo.”

Todas as alternativas contem elementos responsáveis pelo medo que o homem do início da Idade Moderna tinha do mar,EXCETO:

a) Convicção de monstros marinhos e de cidades submersas, responsáveis pelos constantes naufrágios.
b) A firme crença de que o mar fora o caminho pelo qual a Peste Negra chegou à Europa.
c) A proibição, pela Igreja, de incursões no Mar Oceano com base nas palavras de Gênesis.
d) As advertências contidas nas epopéias e nos relatos de viagens dos perigos do Mar Oceano.
e)As invasões dos muçulmanos e berberes na Península Ibérica, possibilitadas pelas viagens marítimas.

12 - O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494:

a) Foi elaborado segundo os mais modernos conhecimentos cartográficos baseados na teoria do geógrafo e astrônomo grego Ptolomeu.
b) Foi respeitado pelos portugueses até o século XVIII, quando novas negociações resultaram no Tratado de Madri.
c) Nasceu de uma atitude inovadora na época: a de resolver problemas políticos entre nações concorrentes pela via diplomática.
d) Resultou da ação dos monarcas espanhóis que resistiam à adoção da Bula Intercoetera, contrária aos seus interesses.
e) Surgiu da necessidade de definir a possessão do território brasileiro dIsputado por Portugal e Espanha.

13 (UFMG – 2000) Leia o texto.
"E aproximava-se o tempo da chegada das notícias de Portugal sobre a vinda das suas caravelas, e esperava-se essa notícia com muito medo e apreensão; e por causa disso não havia transações, nem de um ducado [...] Na feira alemã de Veneza não há muitos negócios. E isto porque os Alemães não querem comprar pelos altos preços correntes, e os mercadores venezianos não querem baixar os preços[...] E na verdade são as trocas tão poucas como se não poderia prever."
Diário dum mercador veneziano, 1508.

O quadro descrito nesse texto pode ser relacionado à
a) comercialização das drogas do sertão e produtos tropicais da colônia do Brasil.
b) distribuição, na Europa, da produção açucareira do Nordeste brasileiro.
c) importação pelos portugueses das especiarias das Índias Orientais.
d) participação dos portugueses no tráfico de escravos da Guiné e de Moçambique.

14 - (PUC-MG- 1998) Há 500 anos (1498), Vasco da Gama chegava às Índias. Essa conquista é
significativa porque:

a) eleva Portugal à alta categoria de potência política.
b) liquida o comércio marítimo no Mediterrâneo.
c) abre uma nova rota para o comércio marítimo.
d) inaugura a “era portuguesa” no Oceano Atlântico.
e) populariza o uso das especiarias na Europa.

RESPONDA AS QUESTÕES 15 E 16 BASEANDO-SE NO SEGUINTE TEXTO:

“(...) Assim foi tecida a expansão ibérica na América. Embebida do maravilhoso,
eivada de espiritualidade, inflamada pela visão do Éden tropical,
sem excluir a cobiça e a ambição que, pelo contrário, foram coloridas pela
profusão de criaturas e crenças fantásticas.(...) Fauna exótica e monstros
que acabaram associados aos índios, execrados no discurso por sua nudez
e antropofagia.”
(VAINFAS, Ronaldo. Utopia e alteridade. Ciência Hoje. v. 18/ nº 101)

15. O tema central desse texto refere-se:

a) aos objetivos da conquista ibérica da América.
b) à fauna exótica das terras americanas.
c) ao caráter religioso da ação colonizadora.
d) ao imaginário europeu diante do Novo Mundo.
e) à ambição desmedida dos ibéricos na colonização.

16. Esse texto leva ainda a concluir que os ibéricos:

a) vêem-se como os verdadeiros salvadores do Novo Mundo.
b) procuram compreender o universo cultural dos índios.
c) entendem a América como extensão do Velho Mundo.
d) têm uma visão negativa com relação à América.
e) idealizam o mundo americano como lugar paradisíaco.

17 (PUC –MG) “Os espanhóis descobriram a América”. O conceito “descoberta” expressa:

a) uma visão eurocêntrica que reconhece os valores culturais do outro.
b) a idéia de que os povos indígenas americanos possuíam uma cultura diferente.
c) o encontro de duas sociedades em diferentes estágios de desenvolvimento.
d) a importância que os espanhóis deram às riquezas minerais encontradas.
e)uma visão europeizante que pressupõe a superioridade da civilização européia.

18 – (PUC – MG) São fatores que contribuíram para o pioneirismo português na época das
grandes navegações no século XV, EXCETO:

a) centralização administrativa durante a dinastia de Avis, permitindo a aliança
entre monarquia e burguesia.
b) ausência de guerras, ao contrário da Espanha ainda lutando pela expulsão
dos mouros da península.
c) adoção do mercantilismo pelo Estado Absolutista conciliando interesses
burgueses e fortalecendo o Estado.
d) política portuguesa de cooperação com as potências européias, neutralizando
a disputa colonialista.
e) posição geográfica de Portugal, banhado em toda a costa oeste pelo
Oceano Atlântico.

19. (PUC – MG) Em fins da Idade Média, difícil seria imaginar que os mareantes portugueses e espanhóis, nas viagens de exploração pelo mundo, pudessem contribuir para a formação do capitalismo porque, EXCETO:

a) os investimentos nas expedições marítimas eram elevados e de alto risco.
b) a arte de navegação era precária e sofria a influência das interpretações
proféticas sobre os oceanos.
c) as informações sobre a existência de outras civilizações eram confusas e fantasiosas.
d) os tripulantes eram supersticiosos transformando qualquer sinal que surgia em maus presságios.
e) os ibéricos vinham sofrendo sucessivas derrotas na luta contra os muçulmanos pela posse da península.

20 (PUC – MG) Os descobrimentos dos Tempos Modernos constituíram-se num desdobramento da Expansão Ultramarina. Nesse contexto, a América era, EXCETO:

a) o filho esperado que permitia aos ibéricos formalizar seus sonhos.
b) propriedade dos reis ibéricos, por direito divino, antes mesmo de ser
descoberta.
c) uma oportunidade para os ibéricos transplantarem seus valores culturais.
d) um desafio para os ibéricos transformarem as suas visões imagéticas
em realidade.
e) o Paraíso que se identificava com os valores de igualdade e liberdade
dos ibéricos.

21. (UNI-BH) Leia o trecho abaixo com atenção:

“Não restavam dúvidas. A viagem de(...) protagonizou a primeira circunavegação de África e o primeiro encontro direto entre o Atlântico e o Índico, revestindo-se, portanto, de importância planetária. Na prática, no terreno, protagonizou antes do mais o primeiro passo na implementação da rede comercial-marítima portuguesa, a que alguns chamam Império, nos mares da Ásia”.

O trecho acima faz parte de importante documento sobre o expansionismo marítimo-comercial do início dos Tempos Modernos, que teve Portugal como o país pioneiro.

O documento refere-se à viagem de

a) Bartolomeu Dias.
b) Pedro Álvares Cabral.
c) Duarte Pacheco Pereira.
d) Vasco da Gama.


22. (UNI-BH) A Expansão Ultramarina comercial e colonial européia tem relação com os seguintes fatores , EXCETO:

a) Necessidade de obtenção de novos mercados para superar a crise feudal agravada a partir do século XIV.
b) Busca de novas áreas para investimentos de metais preciosos obtidos na exploração de minas do Leste europeu desde o século XI.
c) Centralização e fortalecimento do poder real com o apoio de um atuante grupo mercantil interessado na ampliação das rotas comerciais.
d) Novas técnicas de navegação em alto-mar, a invenção da caravela, a descoberta da pólvora e a utilização da bússola e do astrolábio.

23 –(UFMG – 99) Leia o texto.
"As águas são muitas e infindas. E em tal maneira [a terra] é grandiosa que, querendo aproveitá-la, tudo dará nela, por causa das águas que tem. Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar. E que não houvesse mais que ter aqui Vossa Alteza esta pousada para a navegação [...], isso bastava. Mas ainda, disposição para nela cumprir-se - e fazer - o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber o acrescentamento da nossa Santa Fé!"
Carta de Pero Vaz de Caminha, 1º de maio de 1500.
Com base nesse trecho da carta de Caminha, o descobrimento do Brasil pode ser relacionado:

a) à procura de produtos para o comércio no Continente Europeu.
b) ao ideal de expansão religiosa do cristianismo.
c) à divisão do cristianismo pela Reforma Religiosa.
e) à procura do caminho marítimo para as Índias.


24 – (FUVEST) “Esta palavra já não pode ter o sentido original. No âmbito de uma História total, significa (e não pode significar outra coisa) a promoção do Ocidente numa época em que a civilização da Europa ultrapassou, de modo decisivo, as civilizações que lhe eram paralelas. No tempo das primeiras Cruzadas, a técnica e a cultura de árabes e chinesas igualavam, e suplantavam até, a técnica e a cultura dos ocidentais. Em 1600 já não era assim.” (Jean Delumeau)
A palavra a que se refere o autor e que designa um importante fenômeno histórico é:

a) Descobrimentos.
b) Capitalismo.
c) Renascimento.
d) Iluminismo.
e) Absolutismo.


25 (FUVEST) No processo de expansão mercantil europeu dos séculos XV e XVI, Portugal teve importante papel, chegando a exercer durante algum tempo a supremacia comercial na Europa. Todavia “em meio da aparente prosperidade, a nação empobrecia. Podiam os empreendimentos da coroa ser de vantagem para alguns particulares (...)” (Azevedo, J. L. de, Época de Portugal Econômico, Livraria Clássica Editorial, pág. 180).

Ao analisarmos o processo de expansão mercantil de Portugal concluímos, que:

a) A falta de unidade política e territorial em Portugal determinava a fragilidade econômica interna.
b) A expansão do império acarretava crescentes despesas para o Estado, queda da produtividade agrícola, diminuição da mão-de-obra, falta de investimentos industriais, afetando a economia nacional.
c) A luta para expulsar os muçulmanos do reino português, que durou até o final do século XV, empobreceu a economia nacional, que ficou carente de capitais.
d) A liberdade comercial praticada pelo Estado Português no século XV levou ao escoamento dos lucros para a Espanha, impedindo seu reivestimento em Portugal..
e) O empreendimento marítimo português revelou-se tímido, permanecendo Veneza como o principal centro redistribuídos dos produtos asiáticos, durante o século XVI

26 - (PUC-MG - 2000) Sobre o expansionismo ultramarino europeu, entre os séculos XV–XVII, é correto afirmar que, EXCETO:

a) a tomada de Constantinopla pelos turcos e a seguida conquista de Ceuta pelos portugueses são os marcos iniciais da expansão.
b) os descobrimentos e a colonização das terras do Novo Mundo constituíram-se num desdobramento da expansão comercial.
c) o afluxo de metais preciosos das áreas coloniais, principalmente ouro e prata, contribuiu para a superação da crise econômica européia.
d) o deslocamento do eixo econômico do Mediterrâneo para o Atlântico contribuiu para a ampliação das fronteiras geográficas.
e) a consolidação dos Estados Nacionais e a absolutização dos regime europeus têm relação também com os efeitos das viagens ultramarinas.

GABARITO: 1 – A / 2 – A / 3 – D / 4 – C / 5 – A / 6 – B / 7 – C / 8 – C / 9 – C / 10 – A / 11 – C / 12 – C / 13 – C / 14 – C / 15 – D / 16 – E / 17 – E / 18 – D / 19 – E / 20 – E / 21 – D / 22 – B / 23 – B / 24 – A / 25 - B / 26 - A

Dica 2 - Dicas para o Vestibular

DICA 2
Olá Pessoas acredito que além do conteúdo de determinada disciplina, o estudante precisa começar a valorizar a forma, ou seja, a metodologia de estudo.
Em História avaliamos que seja necessário compreender os acontecimentos com lógica de raciocínio, uma lógica dialética onde o estudante possa assimilar, relacionar e explicar os fatos históricos e seus significados no contexto em que estão inseridos. A preocupação em desenvolver uma metodologia para o estudo de História é produto de nossa própria experiência no magistério, onde percebemos que mesmo aquele aluno que deu a devida atenção e entendeu um determinado assunto estudado, terá problemas por não saber às vezes como estudar a matéria. Naturalmente devemos levar em consideração que o ensino médio é essencialmente informativo priorizando a quantidade, que é extensa e diversificada, já que existem várias frentes de cada matéria. Nas aulas de História, ainda é comum a presença daquele estudante que apesar de ter compreendido o assunto, manifesta-se preocupado com uma frase que já se tornou comum em sala de aula: - Professor, compreendi a aula, mas não sei como estudar História. Essa constatação nos leva a desenvolver um roteiro de estudo, visando facilitar a análise dos fatos e mostrar ao mesmo tempo, a importância de entender um assunto com lógica de raciocínio, pois só assim será possível uma análise mais crítica e dialética da História, onde os fenômenos possam ser entendidos com mais lucidez desde suas origens até suas conseqüências. O roteiro proposto é formado apenas por cinco itens (espaço/tempo; contexto histórico; antecedentes; o evento, desdobramentos), que servem para análise dos mais diversos temas, ou seja, através de uma mesma linha de raciocínio pode-se analisar tanto uma aula sobre Reforma Religiosa, como outra sobre Revolução Francesa. A primeira preocupação quando analisamos um acontecimento, é situa-lo no tempo e no espaço, condição elementar para compreensão de qualquer fato histórico e para criar o hábito na utilização de mapas (noção de espaço) e outras ilustrações, auxiliares na caracterização de uma certa época (noção de tempo). O segundo passo é analisar o contexto histórico, isto é, a realidade histórica que cerca o fato em questão. É o ponto mais importante do roteiro, pois desmistifica a História factual, mostrando ao aluno que não existem fatos isolados e que todo acontecimento deve ser entendido à luz da realidade que o cerca. A análise do contexto permite também que o aluno relacione outros acontecimentos inseridos na mesma realidade. Na análise do próprio contexto encontramos os antecedentes (terceiro passo de nosso roteiro), onde perceberemos os fatores estruturais e conjunturais, além de seus determinantes mais específicos e até acontecimentos sem muita importância estrutural, mas que catalisam o processo em direção ao evento estudado. Após os antecedentes, analisaremos o fato, o evento propriamente dito, através de suas características e seu significado histórico. Por fim, já com a preocupação de estabelecer uma relação com um próximo evento, vamos conhecer os desdobramentos onde estabeleceremos um gancho para analisar um próximo assunto, utilizando o mesmo roteiro de análise, ou seja:
1- TEMPO/ESPAÇO
2- CONTEXTO HISTÓRICO
3- ANTECEDENTES
4- O EVENTO
5- DESDOBRAMENTOS
Exemplificarei o roteiro, supondo o estudo da Primeira Guerra Mundial:
A) ESPAÇO/TEMPO
Europa: início do século XX
B) CONTEXTO HISTÓRICO
NeocolonialismoPolítica de AliançasPaz Armada
C) ANTECEDENTES
Disputa de mercados neocolonialista
Divergências político-econômicas e revanchismos
Nacionalismos e antagonismos entre os impérios
O assassinato de Francisco Ferdinando
D) A GUERRAO
inícioBlocos militares em conflitoEtapas
O ano de 1917O término do conflito
E) CONSEQUÊNCIAS
Tratado de VersalhesFim da hegemonia européia
Desintegração dos impériosNovas nações
EUA como potência hegemônica
Liga das Nações
Revanchismo alemão
Fortalecimento do nacionalismo (nazifascismo)
Como já foi observado, quando analisamos os desdobramentos, já introduzimos o próximo assunto (no caso abaixo o nazifascismo), analisando-o através do mesmo roteiro:
A) ESPAÇO/TEMPO
Europa (Itália/Alemanha): anos 20 e 30
B) CONTEXTO HISTÓRICO
Crise das democracias liberais na Europa
Superprodução nos EUA e crise de 1929
Isolamento e crescimento da URSS
C) ANTECEDENTES
Crise européia no pós-guerra, agravada na Alemanha pelas imposições do Tratado de Versalhes
Crescimento dos grupos políticos de esquerda
Greve Geral convocada na Itália por anarquistas e socialistas
Crescimento nazista nas eleições de 1932
D) DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS
Movimento político-ideológico antidemocrático que governou países europeus no "entre-guerras"O totalitarismo;
o nacionalismo;
o anticomunismo;
o antiliberalismo;
o militarismo;
o expansionismo;
o corporativismo fascista;
o anti-semitismo nazista.
E) CONSEQUÊNCIAS
Recuperação econômica alemã com obras públicas e indústria bélica
Militarismo expansionista
Segunda Guerra Mundial
Ao estudarmos a Segunda Guerra Mundial com o roteiro já conhecido, chegaremos aos Desdobramentos, que introduz o contexto da "Guerra Fria" (desenvolvimento, apogeu e crise), direcionando para nova ordem pós-socialismo até os dias atuais.

DICA 1 - PEnse,Pense, Reflita, relembre e Responda bem a sua Prova - Dicas para a Prova de História no VESTIBULAR

Dicas para o vestibular: Momentos de Transição
Conheça algumas dicas para a prova de História dos mais conceituados vestibulares. A prova de História dos principais vestibulares, nos últimos anos, tem cada vez mais valorizado acontecimentos ocorridos nos séculos XIX e XX, ou seja, a Idade Contemporânea em História Geral e o Período Republicano em História do Brasil. Temas envolvendo atualidades também estão em alta, tanto em História, como em Geografia. Essas características estão presentes na maioria dos vestibulares das Universidades Federais de todo o país e em várias regiões do Brasil como nos exames da USP, UNICAMP, UNESP, GV, FATEC, UFPB, UFBA, UFPA e mais notadamente da PUC, que em seu último vestibular de História (Vestibular de 2007) somente explorou esses dois séculos, ou seja, nada de Idade Antiga, de Idade Média, de Idade Moderna, de Brasil Colônia e de Brasil Império.
Uma postura questionável e radical, que dificilmente se repetirá nessas proporções, apesar da tendência geral ser mesmo a valorização da História mais recente. Sendo exames de universidades de primeira linha, é natural que a tendência de privilegiar os séculos XIX e XX acabe servindo de exemplo para outros vestibulares. Outro dado que vale destacar é a valorização de questões com conteúdo multidisciplinar. Os principais exemplos são as provas do ENEM e da UNICAMP, com enunciados longos, em que num texto sobre uma questão de Física, por exemplo, podem ser levantadas questões de História, Geografia, Literatura etc. Apesar desses últimos exames estarem valorizando o passado histórico mais recente, o vestibulando não deve se esquecer que o programa de História envolve todas as etapas e temas do passado da humanidade, valorizando não apenas as informações e conhecimento necessários para identificar e relatar os acontecimentos, mas, sobretudo, a capacidade de abstração, generalização e análise. Para isso, é fundamental que o estudante valorize os momentos de transição, tanto na História do Brasil, como na História Geral.
Esses momentos são revolucionários, pois representam uma ruptura no processo histórico, por meio de transformações estruturais, que assinalam o nascimento de um novo Modo de Produção, correspondente a um novo período na História.
Na História Geral destacaremos dois momentos de transição mais relevantes: a passagem da Idade Média para a Moderna entre os séculos XV e XVI, além da transição da Idade Moderna para a Contemporânea no final do século XVIII.
Na primeira (transição feudo-capitalista), o estudante deve valorizar as transformações econômicas e sociais, iniciadas com a reabertura do Mediterrâneo pelas Cruzadas, passando pelo Renascimento Comercial e Urbano, concomitante à projeção da burguesia. Tais mudanças estendem-se pelo século XV e início do XVI, no contexto da Revolução Comercial e da Expansão Ultramarina.
Com transformações na infra-estrutura, é natural a necessidade de uma adequação política, cultural e religiosa à nova economia de mercado representada pela burguesia. Nesse sentido destacam-se respectivamente a formação das Monarquias Nacionais, o Renascimento Cultural e a Reforma Religiosa.
Esse conjunto irá definir o Antigo Regime marcado pelo Estado Moderno de caráter absolutista predominante no mundo ocidental até o século XVIII.Não precisamos ter "bola de cristal" para afirmarmos que dificilmente um exame de vestibular irá excluir esse momento histórico, no qual destacaremos os seguintes temas:
1- Cruzadas
2- Renascimento Comercial e Urbano
3- Projeção da burguesia
4- Revolução Comercial
5- Expansão Ultramarina
6- Monarquias Nacionais (Absolutismo)
7- Mercantilismo e Antigo Sistema Colonial
8- Renascimento Cultural
9- Reforma e Contra-ReformaJá na transição para a Idade Contemporânea (capitalismo comercial para o industrial), o mundo conhecerá na mesma segunda metade do século XVIII, a Revolução Industrial na Inglaterra, a difusão do pensamento ilustrado (Iluminismo), associado ao liberalismo econômico, além da Independência dos Estados Unidos e da Revolução Francesa. Esse contexto assinala a crise do Antigo Regime e do Sistema Colonial, promovendo o avanço do capitalismo no Ocidente e levando a burguesia ao controle do Estado.
Nessa outra etapa de transição, os temas mais relevantes são:
1- Revolução Industrial
2- Iluminismo e Despotismo Esclarecido
3- Independência dos Estados Unidos
4- Revolução Francesa
Dificilmente um vestibular deixará de explorar esse momento com os fenômenos acima ou com pelo menos alguns deles.
Na próxima semana mostrarei o que deve ser mais valorizado em cada tema que destacamos acima na transição do feudalismo para o capitalismo.

O Brasil na 1ª Guerra Mundial e a DNOG


Sumário dos fatos e condições que levaram o Brasil a entrar na Grande Guerra, suas ações e as conseqüências do conflito.


A participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial é um incidente pouco conhecido e, em termos do Conflito, de pequenas conseqüências. Contudo, deu-se em um momento delicado de nossa história e inseriu-se dentro de uma proposta de se obter uma maior participação nacional nos negócios mundiais, de forma que teve uma relativa importância local. Mais importante do que isso, as suas conseqüências econômicas foram marcantes, de forma que abordar o assunto é relevante para o sítio GrandesGuerras, como uma demonstração de como o Grande Conflito influenciou muito a situação mundial, mesmos nos países que tiveram uma pequena participação nele. A situação do Brasil nas vésperas do conflito não era das melhores. O boom econômico da borracha, que tinha financiado em parte os programas de modernização da marinha (adquiriu dois encouraçados, dois cruzadores e 10 contratorpedeiros do último tipo em 1910) e do exército (comprou centenas de metralhadoras, 212 canhões de diversos calibres e 400.000 fuzis Mauser entre 1905 e 1910) tinha acabado, com a substituição das importações européias pela borracha da Malásia. Isso resultou no fato de que as forças armadas contassem com equipamentos modernos, mas carecessem de meios de operá-los eficazmente. Por outro lado, a situação social e econômica também era complicada. A economia nacional ainda era basicamente uma fundamentada na exportação de apenas um produto agrícola, o café (na década de 1900 a 1910, correspondia 53% da pauta de exportações, a borracha sendo responsável por outros 26%), e este não podia ser classificado como essencial, de forma que suas exportações (e as rendas alfandegárias, a principal fonte de recursos do governo) diminuíram com o conflito. Isto foi um fator que se acentuou com o imediato bloqueio imposto às Potências Centrais e, mais tarde, com a proibição de se importar café feita pela Inglaterra em 1917, quando esta passou a considerar que o espaço de carga nos navios era necessário para produtos mais vitais, por causa das grandes perdas causadas pelos afundamentos de navios mercantes pelos alemães. Do ponto de vista da economia não-agrícola, ainda muito incipiente neste período, pode-se dizer a Guerra ajudou no desenvolvimento de uma indústria local, pois foi necessário montar-se um esquema de substituição de importações, com a criação de fábricas aqui, Mas mesmo isso não foi tão acelerado quanto poderia ter sido, pois os tradicionais países exportadores de capital, que financiariam estes empreendimentos fabris, estavam envolvidos no conflito e, sem os recursos provenientes das exportações de café, faltava dinheiro para financiamento industrial. Aos problemas econômicos, juntavam-se outros, de natureza social. Para se conseguir braços para a lavoura, o Brasil tinha implantado uma política de incentivo à imigração, sendo que no período de 1904 a 1913, tinham entrado mais de um milhão de imigrantes no País – 4% da população total, de 25 milhões. Esses números tornam-se mais significativos quando lembramos que eles vieram a se juntar à outros imigrantes já morando no Brasil e que a maioria de importantes grupos étnicos envolvidos no conflito (duzentos mil italianos, 56.000 alemães e austríacos e 42.000 turcos) se concentravam em um região restrita, São Paulo e, principalmente, nos três estados do sul do País (onde esses imigrantes recentes chegaram a compor por volta de 10% da população total). Como o governo não tinha uma política de assimilação cultural para esses imigrantes, havia diversos enclaves onde a língua – inclusive a escrita, em jornais – era a de seus países de origem, não havendo uma identificação desses imigrantes com a sua nova nação. Muito pelo contrário, eles se viam mais como nacionais europeus do que como brasileiros. Finalmente, a crise econômica causada pela Guerra teve suas conseqüências no espaço urbano, com o crescimento dos problemas trabalhistas nas fábricas, ocasionado pelas péssimas condições de trabalho, baixos salários e alta inflação. Estes fatores incentivavam a ação dos anarquistas e outros socialistas entre os trabalhadores, levando ao surgimento de um movimento operário que era contrário à Guerra européia. Por exemplo, uma assembléia realizada em março de 1915 com representantes de organizações e jornais operários, criou uma “Comissão Popular de Agitação contra a Guerra”, que conseguiu uma certa adesão. No dia 1º de maio daquele ano foi feita uma manifestação no largo de São Francisco, com cartazes contra o conflito, entre os quais havia uns onde se lia “Viva a Internacional” [Socialista], “Abaixo a Guerra” e “Queremos a paz”. Nesta ocasião foi lido um manifesto pela paz, onde estava escrito, sem exagero: “Os efeitos maus da guerra não se delimitam às fronteiras das nações conflagradas. Eles repercutem mais ou menos fundamente por toda a parte. No Brasil, por exemplo, nunca se atravessou crise parecida com a atual. As fábricas, as oficinas estão paradas, e as que ainda não o estão, funcionam dois ou três dias por semana. Formam legiões os operários sem trabalho. Por outro lado, a carestia dos gêneros de primeira necessidade é cada vez mais acentuada. Atravessamos uma situação como jamais se viu. A miséria agora é regra. Milhares de famílias proletárias passam fome”. Em termos de 1913, os salários perdem 25% do seu valor, enquanto os preços aumentam 23% um ano depois do início da Guerra, fator agravado com o aumento dos impostos gerais, feito pelo governo para suprir a queda das rendas alfandegárias, dando razão aos trabalhadores, que viam na Guerra um dos seus maiores problemas. Muitos desses problemas sócio-econômicos já existiam e eram evidentes em agosto de 1914, de forma que a decisão do então presidente Hermes da Fonseca, de manter uma estrita neutralidade é perfeitamente compreensível, já que qualquer outra medida só aumentaria os conflitos internos. Apesar disso, o Brasil foi o único país da América do Sul a protestar formalmente contra a invasão da Bélgica pelos Alemães. No processo de firmar a nossa neutralidade, o presidente baixou o decreto 11.037, de 4 de agosto de 1914, definindo estritas regras de conduta para o País, com a proibição de atracamento de navios de guerra e de recrutamento de pessoal para ir lutar no exterior, além de vedar o armamento de corsários, exportação de material de guerra, instalação de estações de apoio aos beligerantes (inclusive radiotelegráficas) e assim por diante. Esses decretos foram detalhados e ampliados em outros documento legais, os decretos 11.093, de 24 de agosto e 11.141, de 9 de setembro. Por estas normas, por exemplo, foram internados 45 navios mercantes das Potências Centrais, com cerca de 1.200 tripulantes e até uma canhoneira, a Eber, mas não antes que o armamento e a maior parte do seu pessoal tivessem sido transferidos ilegalmente em Trindade, para armar o corsário Cap Trafalgar. Mesmo assim, a ação de agentes estrangeiros teve continuidade, especialmente entre as comunidades de imigrantes, com a venda de bônus de guerra e um pequeno recrutamento clandestino, principalmente entre os italianos. É óbvio que nem todas as ações contrárias à neutralidade brasileira podiam ser evitadas. O caso dos corsários, como o Möwe, que teria se abastecido e carvão no então distante e abandonado igarapé do Inferno no Amapá (28 de janeiro de 1917) é sintomático dos problemas de nossa marinha em patrulhar a costa, apesar de ter sido criada uma força de patrulha justamente para coibir este tipo de atividade. Registros abundam da ação desses incursores de superfície nas nossas costas, desde o já citado Cap Trafalgar, indo até o Karlsruhe e o famoso Seeadler. Só não se pode dizer que foi totalmente ineficaz, pois a instalação de uma pequena guarnição na ilha da Trindade em 1916, equipada com um rádio, impediu uma repetição do incidente do desarmamento da Eber: quando o corsário Wolf, de acordo com as memórias de seu comandante, percebeu o tráfego de rádio vindo de Trindade, ele deixou de usar a ilha como ponto de abastecimento de carvão. Independentemente da vontade brasileira e da eficiência da aplicação das normas, a política de neutralidade tinha seus problemas. O Brasil, por exemplo, não considerava o café como material de guerra – nem o poderia fazer, já que era a base de sua economia –, mas o produto era visto como contrabando por todos os beligerantes, estando sujeito a imediata apreensão assim que fosse descoberto a caminho de um porto inimigo. Isso resultou na imediata proibição de venda para as Potências Centrais, mas conseguimos manter um certo comércio com os aliados, vendendo café aos ingleses (pelo menos até 1917), e aos franceses durante o conflito. Isso não foi muito problemático nos dois primeiros anos da Guerra, pois, de acordo com as normas do direito internacional, um bloqueio só poderia ser declarado se ele pudesse ser efetivamente implantado, com a inspeção de navios suspeitos, para procura de contrabando de guerra. Devido à superioridade naval inglesa, era impossível aos alemães estabelecerem um bloqueio nesses termos aos portos aliados, de forma que nossos navios, navegando totalmente iluminados, com o nome do País pintado no casco e a bandeira içada, para não serem confundidos com navios de guerra, podiam seguir até os portos aliados. Desta forma, somente um navio brasileiro, o Rio Branco, foi afundado por um submarino nos primeiros anos da guerra (em 3 de maio de 1916), mas este estava em águas restritas, operando a serviço inglês e com a maior parte de sua tripulação sendo composta por noruegueses, de forma que, apesar da comoção nacional que o fato geral, não poderia ser considerado como um ataque ilegal dos alemães. Esta situação de paz se alterou em 1º de fevereiro de 1917. Neste momento, o almirante Tirpiz, convencido que uma campanha irrestrita de ataques ao comércio teria condições de retirar a Inglaterra da Guerra, autorizou seus submarinos a afundar qualquer navio que entrasse nas zonas de bloqueio, sem as formalidades legais da vistoria para verificar se o navio portava contrabando ou não. Sabedor dessa medida, Lauro Müller, o ministro das relações exteriores do Brasil, apesar de ser considerado germanófilo (era descendente de alemães), reuniu os embaixadores e representantes de outras nações sul-americanas em Petrópolis, conseguindo o apoio para uma tomada de posição firma por parte do Brasil, com relação a nova política alemã, fato este que foi facilitado pelo fato noticiado na imprensa, poucos dias depois, da descoberta de uma estação de rádio clandestina alemã, em Niterói. Mesmo assim, em 9 de fevereiro, o ministro das relações exteriores alemão, Zimmerman, encaminhou um ofício a Lauro Müller, nos seguintes termos: “... contra suas intenções, devido à atitude dos inimigos da Alemanha, [esta] se vê na obrigação de abater as restrições às quais se sujeitou o emprego de suas forças navais durante quase dois anos, apesar dos importantes interesses militares prejudicados por semelhante resolução”. O documento era acompanhado de outro, a notificação de bloqueio de 31 de janeiro, em que se colocava que: O Governo Imperial [da Alemanha] não poderia assumir a responsabilidade perante sua própria consciência, perante o povo alemão, perante a História, de não utilizar todos os meios para apresar o fim da Guerra. Tinha sido o desejo e a esperança de ai chegar por via de negociações. Os adversários têm respondido à tentativa de entrar nesse caminho pela declaração de intensificar a luta. O Governo Imperial, para servir a humanidade em sua expressão mais alta e para não se sobrecarregar com pesada falta aos olhos de seu próprio povo, deve pôr em ação todos os meios a fim de continuar a luta a que foi compelido para defender sua existêcnia. Vê-se forçado pois a suprimir as restrições mantidas até agora no emprego dos meios de combater no mar ...” No mesmo dia do recebimento do documento, o embaixador na Alemanha o respondia, afirmando que os termos da proclamação eram inaceitáveis, pois o bloqueio por submarinos não poderia ser considerado como legal e efetivo, além de protestar contra as imensas áreas declaradas como estando sob bloqueio e contra a forma como as operações se dariam, sem restrições. O protesto brasileiro terminava concluíndo: Por isso o Governo brasileiro, não obstante o seu sincero e vivo desejo de evitar divergências com as nações amigas ora em luta armada, sente-se no dever de protestar contra esse bloqueio, como efetivamente protesta e, em conseqüência disso, deixo ao Governo alemão a responsabilidade de todos aqueles casos que se derem com cidadãos, mercadorias e navios brasileiros, desde que se verifique a postergação dos princípios reconhecidos do Direito Internacional ou de atos convencionais dos quais o Brasil e a Alemanha sejam parte”. Os protestos brasileiros caíram em ouvidos moucos. Em 5 de abril o Paraná, um dos maiores navios da nossa frota mercante (4.466 toneladas), carregado de café, foi torpedeado a 10 milhas do Cabo Barfleur, na França, apesar de vir iluminado, estar com a bandeira brasileira içada e ter a palavra “Brasil” pintada no casco. Somando-se a esta ofensa, o submarino alemão, emergindo, ainda disparou cinco tiros de canhão contra os náufragos, além de, obviamente, não prestar socorros a eles. A reação do governo foi a de se recusar a receber o embaixador alemão, Pacti, que tinha ido apresentar explicações sobre o incidente. De forma mais contundente, as relações diplomáticas com a Alemanha foram rompidas no dia 11 do mês, com o argumento de que o bloqueio germânico era ilegal do ponto de vista do direito internacional, não sendo aceito pelo Brasil, além da desumanidade do ataque feito contra o Paraná. Neste momento foram devolvidos os passaportes aos funcionários alemães no Brasil, não mais vistos como personas gratas. Além disso, se assumiu a posse legal dos navios mercantes alemães surtos nos nossos portos, sem os confiscar, contudo, só se determinando que fossem colocados guardas a bordo deles, para reduzir a sabotagem que já estavam sofrendo por parte de suas tripulações. A neutralidade, contudo, foi mantida, como pode-se observar pelo decreto 12.458, de 25 de abril, que declarava o País neutro no conflito que se estabelecia entre as Potências Centrais e os Estados Unidos, que tinham entrado em guerra em 9 do mês, ainda em função da campanha submarina irrestrita. Essa decisão moderada não foi bem vista por todos. O povo foi as ruas, clamando por uma reação mais forte do Governo, posição que foi apoiada por políticos da oposição, como Rui Barbosa, que fez um discurso dizendo que o mero abandono da neutralidade não seria suficiente – nada além da entrada na Guerra satisfaria a nação. Rui Barbosa colocava ainda que a posição do Brasil era semelhante à dos EUA, perguntando se as vidas dos brasileiros valeriam menos do que as dos norte-americanos, já que eles tinham entrado na Guerra e nós não. Se a declaração de guerra dos EUA a Alemanha não tinha sido suficiente para parar o conflito, certamente não seriam os protestos do Brasil que fariam diferença, de forma que a campanha submarina contra o comércio continuou – e as conseqüências disso para o Brasil não tardaram. Em 20 de maio outro navio brasileiro, o Tijucas, foi afundado ao largo de Brest, sendo seguido seis dias depois, pelo Lapa, que foi inspecionado e afundado por três disparos de um submarino, ao largo da Cabo Trafalgar. Em função desses ataques, o presidente Wenceslau Brás declarou sem efeito nossa neutralidade em relação aos EUA (permitindo o uso de nossos portos e outras pequenas vantagens aos navios de guerra norte americanos), fato que foi aproveitado logo pelos americanos, que enviaram uma esquadra com quatro encouraçados em meados de junho, para fazer uma visita de boa vontade ao Brasil. Wenceslau Brás também autorizou o uso dos navios alemães que aqui se encontravam (decreto legislativo 3.266, de 1 de junho e decreto 12.501, de 2 de junho). Finalmente, os benefícios dados aos norte-americanos foram estendidos a neutralidade em relação a França, Inglaterra, Japão e Portugal, mantendo uma dúbia neutralidade em relação aos conflitos que ocorriam entre a Itália e Alemanha e entre os aliados e a Áustria-Hungria, Império Otomano e Bulgária. Esses fatos foram recebidos de forma diversa pela população: um importante segmento, alimentado pela máquina de propaganda, assumia uma posição agressiva contra as Potências Centrais, como quando da suposta descoberta pelo Contra-torpedeiro Maranhão do que seria uma base de operações de submarinos alemães em Combari, perto de Santos, ou a acusação de que o incêndio do jornal o “O Paiz” teria sido causado por uma alemão, de nome Hubner, dentro de uma atuação de sabotagem semelhante a que ocorria nos EUA. Para atender essas pessoas – e mostrar uma posição firme – o general Lauro Müller foi substituído no ministério por Epitácio Pessoa. Mas a ameaça de guerra não tinha conseguido afastar de todos os problemas que o conflito vinha trazendo ao País. A questão operária, tratada como se fosse “caso de polícia”, vinha recrudescendo, com o aumento do custo de vida, inflação e congelamento de salários, a ponto de estourar a primeira grande greve entre os operários de São Paulo. Em junho de 1917, estes cruzam seus braços, pedindo 20% de aumento, em 14 de julho o número de grevistas chegava a 40.000 e o movimento se alastrava para Santos e Campinas. Alguns aumentos são obtidos e o movimento se encerra, mas é considerado um marco no movimento sindical brasileiro e pode ser usado também como índice do aumento da industrialização, pois agora o setor urbano já era numeroso suficiente para causar preocupações ao governo. Do ponto de vista do conflito externo, a situação continuava a mesma, a campanha de submarinos prosseguia e o Brasil tinha que manter seu comércio de exportação de café, de forma que novos confrontos eram inevitáveis. Os navios alemães apresados aqui faziam parte da “Lista Negra” aliada, o que permitia a sua apreensão pelos aliados, mas o Brasil fez um acordo com a França, arrendando 30 deles (com tripulações brasileiras) e passando a usar os 15 outros, retirados da lista negra. Os que não se encontravam muito sabotados por seus tripulantes alemães (recolhidos em campos de internação no Rio de Janeiro), foram imediatamente postos em uso no comércio exterior. Um desses, o Macau, ex-Palatia, em 18 de outubro estava com uma carga de café a 200 milhas do Cabo Finesterra, quando foi parado por um submarino alemão. O capitão do navio, seguido por seu despenseiro, foram a bordo do submarino com os papeis do cargueiro, sendo aprisionados (e nunca mais vistos). O navio em seguida foi torpedeado. O conflito já existia de fato e só restava ao governo brasileiro reconhecer a existência do estado de guerra (o Brasil nunca declarou guerra a ninguém). Assim, o presidente Wenceslau Brás enviou em 25 de outubro uma mensagem ao congresso, onde dizia: ... não haver como iludir a situação ou deixar de constatar o estado de guerra que nos é imposto pela Alemanha”. O Congresso, no dia seguinte, aprovava o decreto 3.361, onde se “reconhecia e proclamava o estado de guerra iniciado pelo Império Alemão contra o Brasil”. Os contra-torpedeiros Piauí e Mato Grosso foram enviados para a Bahia, para capturar a canhoneira Eber, mas os tripulantes desta conseguiram incendiar o navio antes que pudessem ser detidos. Além disso, como uma das primeiras medidas de reforço da nacionalidade, os jornais em língua alemã foram proibidos. Mas esses atos não atendiam os interesses da população dos políticos, que queriam uma participação mais ativa, como uma forma de vingança e para desviar a atenção dos problemas internos. Desta forma, foi criada a Divisão Naval em Operações de Guerra (D.N.O.G.), além de ter sido declarado o Estado de Sítio nos estados do Sul (com numerosos imigrantes estrangeiros) e no Rio de Janeiro e São Paulo, por causa das agitações operárias. A iniciativa da criação de uma divisão naval tinha sido apresentada pelo Brasil na conferência de Paris, no final de novembro, com a oferta de dos dois cruzadores leves (Bahia e Rio Grande do Sul) e de quatro contra-torpedeiros, para operar no circuito Dacar-São Vicente-Gibraltar. Aceita a oferta, a Divisão foi criada em 30 de janeiro de 1918, com do citados cruzadores e os contra-torpedeiros Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Santa Catarina, sob o comando do contra-almirante Pedro Max Fernando de Frontin. Este pediu a cessão de um navio para servir de tender, tendo-lhe sido designado o Belmonte (ex-alemão Valesia), armado como cruzador auxiliar. Finalmente, o rebocador Laurindo Pita (hoje preservado como navio-museu no Rio de Janeiro) completava a DNOG, com um efetivo total de 1502 homens: 75 oficiais de armada, 4 médicos, 50 oficiais de máquinas, 5 oficiais comissários (intendentes), um farmacêutico, um dentista, um capelão, um sub-maquinista, 41 sub-oficiais, 43 mecânicos, 4 auxiliares de fiel, 702 marinheiros, 481 foguistas, 89 taifeiros, um padeiro e três barbeiros. Deve-se observar que essa oferta não era apenas simbólica – os aliados necessitavam urgentemente de navios e tripulações para o serviço de escolta de comboios. Por exemplo, 22 comboios (19 lentos e 3 rápidos) foram organizados entre o Rio de Janeiro e a Inglaterra em 1917 e 1918 e para acompanhar esses comboios eram necessários navios de guerra – e isto em uma frente secundária. O desespero por navios e, mais ainda, tripulações, era tal que a Inglaterra teve que desativar alguns encouraçados velhos para usar as tripulações em navios de escolta e aceitou-se até o envio de uma esquadra de destróieres japoneses para operar no Mediterrâneo, cedendo a eles também dois contratorpedeiros ingleses, para serem tripulados por nipônicos.Mesmo sendo uma medida necessária, a formação da flotilha brasileira sofreu de uma série de problemas, desde o início. Os navios brasileiros, lançados ao mar em 1910, não estavam equipados para a guerra anti-submarina: não tinham hidrofones para detecção de embarcações submersas e não havia calhas especializadas para o lançamento de bombas de profundidade. Além disso, os navios eram movidos por máquinas a vapor queimando carvão, o que exigia um número elevado de foguistas e demandava reabastecimentos constantes, fator agravado pelo pequeno porte de todas as embarcações – os contra-torpedeiros tinham somente 600 toneladas e um raio de ação muito limitado, exigindo constantes transferências de carvão, atividade muito complicada de ser feito em alto-mar. Finamente, devido à própria Guerra, que impedia o fornecimento de peças de reposição, as caldeiras dos cruzadores precisavam ser reparadas, o que não pode ser feito no Brasil. Apesar de todos os pesares, a Divisão seguiu para o Teatro de operações em 16 de julho de 1918. Na viagem, o incidente mais notável teria sido um ataque de torpedo feito contra o tender Belmonte, nas proximidades de Dacar, felizmente não bem sucedido. O suposto submarino foi atacado por tiros de canhão e bombas de profundidade, mas o ataque e o possível afundamento do submarino não puderam ser confirmados. Contudo o almirantado inglês informou sobre o desaparecimento de um submarino alemão que operava na rota da DNOG. Em Dacar, onde a Divisão chegou em 26 de agosto, após sucessivas paradas na rota, os navios receberam ordens de operar na área de Cabo Verde, até então só patrulhada – de forma inadequada – por duas canhoneiras inglesas. Os problemas, entretanto, continuavam. O vírus da gripe espanhola, adquirido em Freetown, começou a causar baixas (no final, a DNOG perderia 110 mortos e 140 incapacitados pela doença: 17% do seu efetivo total). Somava-se a isso os problemas mecânicos, que imobiliziram os dois cruzadores e um dos contra-torpedeiros, o que certamente reduziu em muito a eficácia de ação da Divisão. Após algum tempo, nossos navios receberam ordens dos ingleses para seguirem para Gibraltar, tendo ocorrido na rota alguns incidentes. O Almirante Frontin fora alertado pra tomar cuidado, pois o encouraçado Britânia, designado para acompanhar a flotilha brasileira tinha sido afundado em rota por um submarino e havia um alerta de presença de submersíveis na área. Desta forma, foi com muita tensão que navegamos, o que pode ser a explicação de duas confusões que ocorreram. A primeira foi a muito conhecida “batalha das toninhas”, quando um cardume destes peixes foi confundido com o rastro de um periscópio, fazendo com que o Bahia disparasse seus canhões contra os peixes. O outro incidente foi um ataque de canhões, feito pelo contra-torpedeiro Piauí contra o caça-submarinos 190 da marinha norte-americana, confundido com um submarino devido às suas pequenas dimensões, felizmente sem causar danos ao navio aliado, que logo se identificou. A Divisão chegou a Gibraltar no dia 10 de novembro, às vésperas do armistício, retornando ao Brasil após uma visita de boa vontade à Inglaterra. A ação da DNOG não foi das mais gloriosas. Mesmo tendo sido uma tentativa de mostrar nossa capacidade e vontate de combater o inimigo, serviu mais para ilustrar as deficiências que nossa incipiente marinha tinha que superar. Isso fica claro nos “comentários finais” escritos na História Naval Brasileira, a obra oficial que trata do assunto: “A DNOG escreveu página mais triste do que gloriosa da História da Marinha brasileira. Mas nossa participação na Primeira Guerra, com suas dificuldades e limitações, foi grito de alerta sobre a importância de se manter permanentemente força naval pronta e adestrada, mesmo que modesta, pois, dispondo-se do material, os marinheiros que o guarneceriam não desmentirão, a bravura, a abnegação, o entusiasmo, o espírito de sacrifício, que foram o apanágio das tripulações da DNOG”. Afora a participação da Divisão Naval, o Brasil também enviou um hospital completo para Paris, com 100 médicos e pessoal de apoio, assim como oficiais para participarem do conflito, aprendendo as últimas técnicas que estavam sendo desenvolvidas, como as relativas à aviação (oito pilotos lutaram com a RAF, sete da marinha e um do exército) e em terra. Houve até um oficial que esteve presente na Batalha de Jutlândia e outros combateram na Frente Ocidental. Um deles, o tenente Carlos de Andrade Neves, morreu de doença enquanto servia no 8º Regimento de Artilharia de Campanha Francês, em 1918. Destes oficiais que serviram no exército francês, o caso mais importante e famoso foi de José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, que comandou pelotões de cavalaria francesa de três regimentos diferentes, sendo que pelo menos em um dos casos ele comandou uma pequena unidade do 504 Regimento de Dragões, equipados com tanques (Renault FT-17). A experiência adquirida com esses carros e o papel deles no conflito fez com que o exército comprasse o primeiro material blindado do País, uma companhia de 12 carros Renault FT-17, que seria comandada por Albuquerque. A experiência dele com os carros permitiu também que eles fossem adaptados para o Brasil, corrigindo-se uma série de pequenos defeitos de projeto. Por essas razões o General Albuquerque é conhecido como o pai da força blindada brasileira. Além disso, a Guerra – e a compreensão das novas realidades causadas pelo conflito – facilitou em muito a implantação do recrutamento obrigatório no Brasil. Esta era uma campanha que vinha sendo desenvolvida à vários anos pela Liga de Defesa Nacional, e por alguns expoentes de nossa cultura, o maior de todos sendo o poeta Olavo Bilac. Entretanto, essa proposta não tinha tido muito sucesso. Durante a Guerra, todos os grandes exércitos passaram a ser compostos de recrutas conscritos, sendo que alguns dos grandes exércitos já antes da Guerra eram compostos de cidadãos que tinham recebido o treinamento básico durante a paz (54% dos homens franceses em idade militar antes de 1914 tinham recebido esse treinamento). Os antigos exércitos profissionais, de pequenos efetivos, não tinham mais lugar na nova guerra de massa, e isso forçou o Brasil a adotar o recrutamento em 1917 – um fato de grande efeito, pois até hoje nosso exército é formado por um grande número de conscritos que recebem treinamento básico, formando as reservas mobilizáveis em caso de guerra. Os beligerantes também prestaram apoio às forças nacionais, com o envio de missões militares e material de guerra. Os franceses cederam, por exemplo, trinta aviões, base de nossa incipiente aviação militar. Mais tarde, o Brasil contrataria uma missão militar francesa, para treinar nosso corpo de oficiais, fato que teria profundas implicações, já que duas gerações de oficiais foram treinados e instruídos pelos Franceses, entre 1921 e 1934. Do ponto de vista da paz, o Brasil enviou uma imensa comitiva para participar da conferência de Versalhes, chefiada pelo futuro presidente Epitácio Pessoa. Esta comitiva conseguiu incluir dois parágrafos no acordo de paz, um relativo à indenização de sacas de café apreendidas em portos alemães quando da declaração da Guerra e outro relativo a venda dos navios alemães apresados (menos dois, apreendidos pelos Franceses), ambas em condições favoráveis a nós. O Brasil também foi um dos fundadores da Liga das Nações, órgão que antecedeu as Nações Unidas e na qual nossos diplomatas colocaram grandes esperanças, pelo menos inicialmente. A decisão norte-americana de não participar da Liga, e medidas posteriores tomadas por esta, nos desiludiram, fazendo com que o Brasil abandonasse a Liga alguns anos depois, sendo a saída Brasileira considerada por muitos como um símbolo do fracasso daquela organização. Internamente, a Guerra implicou em uma transformação interna mais profunda. A necessidade de substituir importações tinha levado ao surgimento de um núcleo industrial maior e este tinha sido financiado, basicamente, por capitais norte-americanos, já que a Inglaterra, antiga financiadora primordial, não era mais capaz de faze-lo, marcando uma mudança de orientação na formação de nossa dependência econômica, situação que só viria a se acentuar ao longo das décadas seguintes. De um ponto de vista econômico mais imediato, a crise da Guerra não seria totalmente solucionada com o término do conflito. A isso somava-se a visão de diversos setores – interessados na modernização do País – de que uma economia dependente de apenas um único produto agrícola não era aceitável, o Brasil precisando de reformas econômicas e sociais. Esta visão de que reformas eram necessárias, claramente representada pelos oficiais mais jovens das forças armadas, os Tenentes, fizeram com que o período que se seguiu a Guerra fosse marcado por revoltas internas, como o movimento dos “18 do Forte” e a coluna Prestes – todo o mandato de Epitácio Pessoa (1922 a 1926) foi passado com o país em Estado de Sítio devido a estes movimentos e o problema só se resolveria em 1930, com a ascensão ao poder de Vargas e a queda do poder dos cafeicultores de São Paulo. Desta forma, mesmo que a participação brasileira no conflito tenha sido restrita, a 1ª Guerra teve profundas e duradouras conseqüências, tanto militares, como sociais e econômicas.
Fonte deste artigo: Adler Homero Fonseca de Castro